Capítulo XXIII - O Assassino de Amirom (segunda parte)

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Ao amanhecer nos pés da montanha, já era o nono dia da jornada de Amirom. Cansado ele seguiu caminho pelas planícies floridas sentindo-se bem consigo mesmo. Havia retirado da terra dois seres profanos deixando em seu lugar dois homens para reconstruir suas vidas. Contudo, Amirom desconhecia que alguém o acompanhava espreitando sua fraqueza física e mental. O "pai da mentira" apareceu diante dele com forma andrógina, extremamente bela entre as flores. Seu corpo era coberto parcialmente por um tecido mais branco e puro que as nuvens do céu. Longos cabelos loiros brilhavam como a própria luz. Seus olhos eram flamejantes como um sol negro de um eclipse e de seus lábios sensuais ao som de uma harpa, ele proferia o nome de Amirom de maneira lúdica.

"Amirom... Amirom... Por que fazes isso?"

O velho eremita era sábio, não respondeu. Seguia seu caminho, não ousava discutir com o príncipe dos caídos.

"Silêncio é sua resposta? Ele lhe deu uma jornada dura e nem ao menos uma montaria? Não mudou nada... Triste são os homens que se alimentam de esperança na fé. É como lutar segurando a espada pela lâmina".

"Triste é aquele que não aprende com os próprios erros, vá! Perdeu sua guerra, me deixe seguir meu caminho em paz".

"Mas se eu o fizesse, não seria o maldito, o caído, o pai da mentira... Quantos nomes ele me deu Amirom?"

Lúcifer se deixou levar com o vento. Seus cabelos e manto movimentavam se de maneira hipnótica. Ele colhia belas flores que ficavam ainda mais intensas em suas mãos.

"O que eu perdi Amirom?"

"Suas asas, agora tu estás condenado ao mar de fogo. Sei que não estás aqui, apenas enviou sua voz corruptora até meus ouvidos cansados. Tu és o adversário, seu novo nome é Satã!"

"Asas? Sim, eu me lembro delas. Eu as tinha para ele. Três pares de beleza inefável, mas nunca foram minhas na verdade. Agora sem elas eu ainda vôo saboreando a verdadeira liberdade".

"Mas eu também sou livre!" Exclamou Amirom caindo na armadilha intelectual de seu corruptor.

"Liberdade Amirom, é ter consciência dos atos e ainda sim executá-los. Essa sua jornada, por que fazes isso?"

"Eu escolhi".

"Então está me dizendo que se não fosse sua vontade teria dito "não" a ele?"

Amirom cometeu o erro de conversar com Lúcifer. Deveria ter ficado em silêncio caminhando, mas agora já não havia como retornar, estava enfurecido se sentindo um tolo e antes que pudesse organizar seus pensamentos e recobrar a razão, o "Caído" disse mais coisas. Sua língua era como uma chicotada na alma do velho eremita. Suas palavras ardiam como brasas.

"Claro! Tu dirias "não" a Ele, que varreu a Terra com águas enfurecidas derrubando em segundos o que os homens levaram anos para construir, Diria "não" a ele que matou tantos homens como tu, diria "não" a ele que é onipotente, diria não a ele... Afinal ele é muito compreensível, não é Amirom?" Lúcifer pronunciava indagações sarcásticas por seus lábios sensuais mantendo um olhar perturbadoramente sedutor.

"Ele me deu tudo. por que negaria essa missão?" Amirom defendeu-se com uma pergunta na tentativa de desarmar a ironia de seu adversário corruptor.

"Mas a pergunta não é essa Amirom. Está dizendo que o pai que tem o direito de pedir tudo o que quiser e que o filho deva tudo, mesmo não tendo escolhido o pai? E aquele livre arbítrio que "Ele" lhes deu por direito? São tantas questões Amirom, reflita sobre sua condição e entenda... Ou pensar demais também é proibido por Ele?"

Entre o céu e o inferno - A gênese do fimWhere stories live. Discover now