Capítulo X - A melodia do caos

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Era tarde da noite e à medida que adentravam no subúrbio da cidade, Daniel e Matheus podiam ver os "rockeiros" e "punks" movimentando-se em grupos na direção da tal casa noturna que já se fazia presente entre os prédios de maior estatura por meio de pilastras de luz que indicavam sua localização. Matheus não conhecia a cidade, sua primeira impressão era de um lugar rico. Os fortes elementos europeus presentes na arquitetura, os imensos arranha-céus traziam uma imagem de prosperidade, mas agora ele podia ver a pobreza. Ruas velhas e sujas, mendigos se aquecendo em fogueiras feitas nas latas de lixo, homens suspeitos nos becos escuros, prostitutas, casas e prédios abandonados e decadentes, mostraram ao jovem Matheus que a alma da cidade era outra. Havia algo ruim naquele ar, nisso Daniel estava certo.

"Parece que não é só uma casa noturna não é?" Perguntou Daniel enquanto olhava discretamente para as calçadas movimentadas.

"Eu não vi muitas casas noturnas para saber se isso é estranho ou não. Para ser exato, não que eu me lembre, mas eu arriscaria dizer que não vejo nada demais em uma casa noturna com música pesada e pessoas exóticas". Matheus respondeu com seu olhar de desdém enquanto apoiava o rosto na mão esquerda e olhava pela janela do carro as pessoas seguindo o caminho para a origem das luzes que cortavam o céu como espadas de luz.

"Eu sinto! Esta cidade não é só mais um lugar cheio de problemas sociais, Há algo ruim, uma nuvem negra que adoece esse lugar, por isso eu vim ficar aqui por uns tempos, sinto que tenho algo a fazer... Uma missão..."

"Isso é com você, Se tem o poder de sentir algo além do obvio, vou confiar na sua intuição. Mas não vejo nada demais nessas pessoas. Estão se distraindo da dor de uma existência desprovida de sentido. Estão preenchendo uma lacuna em suas almas..."

"Não entendi. Do que estamos falando? Você não acha que vim até aqui só porque esses "punks" parecem "louvar" o demônio, está?"

"Desculpe, mas me parece que estamos procurando "uma agulha no palheiro", ou melhor, seria mais fácil se assim fosse porque saberíamos o que estamos procurando, mas no nosso caso, nem isso..."

"Entendo seu ceticismo. Só peço que confie em mim..."

"Tudo bem Daniel, tenho fé em você. Nada mais apropriado se tratando de um anjo de carne e osso". Matheus sorriu.

"Sabe não gosto desse seu humor, mas gosto de você". Daniel devolveu o sorriso e voltou o olhar para o destino. "Chegamos!"

Daniel estacionou seu carro em uma esquina onde havia muitos outros veículos. Do outro lado diante do casarão uma fila de motos estacionadas enfeitava o lugar. A musica alta se fazia estridente em todo o quarteirão. Pequenos grupos de amigos se embebedavam na rua. Os prédios ao redor da casa noturna eram abandonados e estavam em ruínas, à escuridão deles chamou a atenção de Matheus enquanto ele descia do carro. Seus olhos negros refletiam a profundidade do abismo e ele se sentia observado.

Aquele momento introspectivo foi quebrado pelo barulho da porta do carro se fechando. "Tudo bem?" Daniel perguntou ao perceber a distração de Matheus.

"Sim, só uma impressão estranha". Matheus começou a andar na direção da casa noturna.

"Gosta desse tipo de som? Para mim é caótico demais". Daniel perguntou enquanto atravessavam a rua.

"Até onde sei sou eclético para música". Matheus respondeu quando de repente uma cadeira voou de dentro do lugar pela janela quebrando o vidro em pedaços. "Parece ser um interessante lugar. As pessoas estão se divertindo!" Comentou diante da cena.

Entre o céu e o inferno - A gênese do fimWhere stories live. Discover now