Havia algo de arrebatador na forma como seu corpo ficava tenso ao toque de meus lábios. A forma como sua respiração vacilava, seus arrepios...
A perfeição estava presente nela, em cada uma de suas reações.
Eu ficaria ali por horas, distribuindo beijos e carícias que a fariam esquecer de nossos problemas, de meu irmão e de todo o universo fora daquele cômodo, no mais preguiçoso dos ritmos, se não fosse o perigo de ultrapassar certos limites. Esse era o único motivo que me obrigava a recuar e me contentar em admirar aquele belo par de olhos.
Nem mesmo o céu, em todo o seu esplendor, era dono de um azul tão hipnotizante como o que havia nos olhos dela. Talvez os mares gregos, mas eu sempre rejeitava aquela opção. Eu preferia pensar que aquele azul era único e exclusivamente dela, dela para mim e só para mim.
— Se um dia tivermos uma filha, promete não deixar com que ela tenha seus olhos? — sussurrei, me aproximando de seu ouvido.
— Filhos? Sério?
— Apenas prometa.
— Não sei se posso controlar esse tipo de coisa — disse, falhando em conter o riso, já que eu tentava lhe fazer cócegas discretas. — , mas vou ver o que posso fazer. Eles são tão ruins assim?
— Muito pelo contrário — me apressei em explicar. — Sou louco por eles. E como o homem egoísta e protetor que acabei por me tornar, não quero dar a outro homem o prazer de ter uma amada com olhos tão lindos quanto os seus.
— Protetor? Não seria ciumento? — ela perguntou sem nem tentar esconder o fato de que estava rindo de mim e não de como minhas mãos brincavam sobre sua pele.
— Ciúmes são para homens inseguros — disse, deixando sua pele para traçar linhas imaginárias em um de seus travesseiros. — Estou bem seguro em relação a minha capacidade de mantê-la interessada em mim. Apenas me nego a deixar com que outros homens fiquem ao seu redor como abutres esperando sua vez. Você é boa demais para eles.
— Você fica muito lindo quando está com ciúmes, sabia? — ela perguntou, com o que eu consideraria o mais belo dos sorrisos.
— Retiro o que eu disse — resmunguei. — Eu não quero uma filha, com o sem olhos azuis. A não ser que eu possa trancá-la numa torre longe de todos os homens do mundo. Não acho que consigo dormir com a possibilidade de algum cara pensando em fazer com minha menininha o que quero fazer com você. — E então beijei o canto de sua boca. — Misericórdia. Tenho que reunir meus irmãos para trancarmos April com o mais alto nível de segurança possível!
Um sorriso surgiu em seus lábios, e eu quis roubá-lo para mim assim como o ar em nossos pulmões com o que eu faria ser o mais intenso dos beijos.
Mas não houve beijo, carícias ou qualquer momento de puro prazer preguiçoso. Apenas a sensação do ar pesado em meus pulmões e logo o quarto se tornou escuro, e sua escuridão abriu portas para a realidade.
Eu não estava em seu quarto, Danitria não estava ao meu lado e, o que parecia um simples movimento, me fez gemer ao sentir como se dezenas de agulhas atingissem meu peito. De alguma forma eu havia perdido a conta dos dias em que me encontrava trancado naquele cubículo cinzento sem muito o que fazer. Não havia móveis que pudessem ser usados para atacar os vigias, a cama estava parafusada na parede e o teto era sólido demais para uma tentativa de fuga e eu sonhei com ela em cada uma das noites em que estive preso naquele quarto como se minha mente estivesse punindo-me por magoá-la ao lhe negar a verdade.
Uma batida na porta chamou minha atenção e logo a mulher de jaleco, que diariamente verificava minha condição, veio até mim, escoltada por seus brutamontes.
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