- Capítulo 10 -

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Duas semanas

Esse era o tempo que levaria para Danitria ter seus pulmões funcionado corretamente, como antes. O homem descontrolado e abobalhado em quem ela havia me transformado queria ficar ali, sentado ao lado dela, vendo sua respiração, esperando pelo momento em que ela abriria os olhos e eu pudesse ver novamente aquele sorriso. Mas eu não podia, mesmo se quisesse. Eu tinha uma agenda lotada para aquelas duas semanas e estava mais do que na hora de voltar a ser o Liam de antes. Ou uma versão menos politicamente correta dele.

Os membros do conselho real, eram todos senhores de terras. Cada um deles era responsável por uma das províncias de Etama, e sendo assim, eram donos ou então sócios das grandes empresas em cada uma delas. Nossa nação tinha sido moldada em alguns padrões antigos de quando o antigo Brasil era um império. Pensando nisso, cheguei a uma linha de raciocínio que era bem a cara de Call. Se usar o passado como base para um futuro tinha funcionado uma vez, porque não fazer o mesmo agora? E foi com essa ideia que começamos a roubar mercadorias dos grandes armazéns e usado elas para ajudar o povo que estava vivendo em um nível tão decadente que, na maioria das vezes, faziam com que eu me sentisse mal por ter crescido no meio de tanto luxo e fartura.

A ideia era usar o método Robin Hood. Roubávamos apenas os armazéns que pertenciam aos membros do conselho e suas famílias. Se eles estavam tentando acabar com o povo para o motim deles funcionar, nada mais justo que tiramos as coisas deles para manter o povo vivo enquanto tentássemos descobrir um jeito de acabar com os planos deles.

Para manter a nossa base/fábrica abandonada em segredo, deslocamos um grupo de homens para a cidade por um tempo. Nos mantínhamos nas zonas C à F, mudando de paradeiro de dois em dois dias, para não nos encontrarem. O número de simpatizantes me impressionou e parecia que as estórias sobre nós estavam se espalhando. No gueto as crianças faziam questão de ir até nos quando descarregávamos os caminhos com mantimentos. Tudo feito da forma mais discreta possível, logico. Nem passava pela cabeça dos jaguaís que um grupo organizado estava roubando os armazéns.

Eu ficava um pouco nervoso por saber que nossa invisibilidade não duraria por muito tempo. Não era só em Pontas Novas que estávamos agindo. Minha equipe estava em Pontas, mas em todas as províncias haviam equipes, algumas maiores que as nossas, e logo os oficiais iriam ligar os pontos. Mas eu fazia o possível para não surtar. Otávio estava em minha equipe, junto o tal Adam e outros homens, e, por mais que tivéssemos tentando evitar, Jack havia ido conosco, e eu não queria o assustar.

De certo ângulo a coisa até era um pouco divertida. Era como está acampando com um grupo de amigos. Quando não estávamos roubando armazéns ou ajudando alguma família com que estava nos hospedando, os outros do grupo se divertiam com meu acordo com Jack. Eu iria ensiná-lo a ser um príncipe, enquanto ele me ensina a ser um garoto normal.

Ele me fez jogar cartas, participar de um torneio de cuspi a distância e até mesmo a comer com a mão. Não quis cortar o barato do menino contando que eu já havia feito todas aquelas coisas quando eu era criança, até porque era diferente. A sensação era totalmente nova. Nada de fazer as coisas para provocar as babás ou para disputar com os irmãos quem era o mais péssimo. Eu tinha passado de menino despreocupado para um homem cheio de responsabilidades para, de uma hora para a outra, deixar de ser um príncipe para ser um cara que está batalhando por algo que acredita e que faz bobagem de garotos como não fazia desde de que tinha sete, oito anos de idade.

Na minha parte do acordo, eu tentava encucar valores em Jack. Ensinei ele a jogar xadrez e as vezes conversávamos sobre quais costumavam ser meus deveres em casa. Otávio ria de minhas tentativas, mas vez ou outra o víamos usando uma frase minha aqui e outra ali. Eu me sentia bem com aquilo. Ele meio que estava ocupando o pedaço da minha vida que antes era ocupado por meus irmãos.

Jogos da Ascensão II - As Garras de EtamaWhere stories live. Discover now