Capítulo 9

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Ao acordar, vi Jack em pé ao meu lado, com os olhos bem fixos em Danitria. Fiquei em silêncio para não o alertar de que eu estava o observando, mas não consegui conter um sorriso quando vi ele enrugando o nariz, o que lhe dava uma aparência um tanto agradável e até certo ponto familiar.

O menino ficava engraçado vestido com aquela blusa de mangas compridas que era grande demais para ele, tendo a faixa amarrada a seu braço, como um sinal visível de seu ideal, do homem que ele queria ser, mesmo que talvez, por ser muito jovem, ainda não soubesse exatamente o que significava ser esse homem.

Seus olhos vieram ao encontro dos meus e seus ombros se encolheram quando percebeu meus olhos sobre ele.

— Não queria te acordar... — disse baixinho.

— Tudo bem — respondi, buscando deixá-lo tranquilo.

Seu olhos curiosos logo voltaram para Danitria e eu concluí que talvez não fosse ela que despertasse seu interesse, mas sim o tubo em sua boca que em mim causava grande agonia em olhar.

— Ela não consegue respirar sozinha. O tubo ajuda — expliquei, trocando o olhar dele para ela.

— Ota disse que foi por causa dela que você tentou me matar.

— Eu não tentei te matar... — respondi, um pouco mais ofendido do que tinha o direito de estar, levando em conta que estivemos em uma situação que dava a entender exatamente o que ele estava me acusando de ter feito.

— Ela deve ser importante pra você — disse, me ignorando por completo. — Ota disse que quando a gente tem alguém importante pra gente, às vezes a gente fica doido. Você tentou me matar, então acho que ela é muito importante, por que você foi bem doido. Ela é sua amiga?

— Mais ou menos isso.

— É sua namorada? — perguntou com olhar cínico que me fez rir.

— O nome dela é Danitria e sim, ela é muito importante para mim.

— Então eu te desculpo — disse estendendo a mão para mim.

Apertei sua mão como uma forma de trégua e com isso ele simplesmente sentou na beira da cama de Danitria e passou um dedo no braço dela, parecendo ter medo de a acordar assim como tinha feito comigo

— Isso deve doer. Esse negócio na boca — disse apontando com o queixo. — Isso vai lá dentro?

— É por isso que ela está assim. Eles dão um remédio para manter ela dormindo. Assim não doe tanto.

— É melhor a gente não avisar os pais dela. Eles vão ficar preocupados. É o que o Ota sempre me diz sobre a mamãe, que ela vai se preocupar se a gente contar toda vez que eu tô doente. Mas quando ela descobre depois, fica se mordendo de tanta raiva e às vezes bate no Ota — disse rindo, como se contasse a piada mais divertida do mundo.

— Ela não tem pais. Eles morreram quando ela era pequena. E, na minha opinião, sua mãe deveria saber quando você não está bem.

— Você conhece minha mãe? — o menino perguntou animado, sem dar relevância alguma a notícia da não existência de pais na vida de Danitria. — Ela trabalha pra vocês, não sei onde, mas ela trabalha num casaralhão que vocês gente rica tem. Ela é muito bonita e fica com o nariz vermelho quando tá com raiva. Faz um tempão que eu não vejo ela, mas ela vem toda vez no meu aniversário — E ele então fez uma pausa, bufando ao deixar os ombros caírem, enquanto cruzava os braços. — Como é que ela vai me encontrar agora? Eu nem sei onde a gente tá!

— Ei, ei, calma mocinho — eu disse, tentando chamar sua atenção. — Vai ficar tudo bem. E não, eu acho que não conheço sua mãe. São muitas pessoas ricas em Etama e existem vários casarões. Mas, se for um bom menino, eu prometo que vamos procurá-la assim que as coisas ficarem mais calmas. Ok?

— E depois a gente procura a sua mamãe? — ele perguntou com os olhos brilhando.

Naquele momento pensei em como a inocência de uma criança podia ser uma benção. Lembrei de como era fácil acreditar em todas as promessas, sonhar com o impossível e em como eu tinha certeza que tudo o que saia da boca de meus pais era a mais absoluta das verdades, mesmo quando ele me dizia que as estrelas cadentes podiam realizar todos os meus desejos, isso se eu realmente acreditasse no que eu pedia, como quando eu pedi pra aprender a desenhar melhor e, em pouco tempo, eu já tinha uma coleção enorme de desenhos pendurados na parede do palácio com fita adesiva. Não importava quantas vezes os funcionários tiravam minhas folhas com desenhos da parede, eu sempre ia lá e colocava desenhos novos. Foi nesse tempo que eles me deram meu atelier e disseram que ali era minha galeria pessoal, onde eu devia deixar meus desenhos expostos, e que, quando tivéssemos visitas importantes, eu poderia convidá-los para verem minha arte.

Mas nem todo desejo feito para uma estrela cadente se tornou realidade, mesmo que você pedisse com todas suas forças. As estrelas não trouxeram meus pais de volta. E quando percebi que eles jamais voltariam, apenas desejei por forças para fazer o que tinha que ser feito, forças para viver mesmo sem eles, força para meus irmãos.

Com a mão no pingente de meteorito que meu pai tinha me dado, eu tentei afastar aquela sensação de mim. Já faziam dois anos. Eu mais do que já deveria ter superado aquilo. Mas nem sempre é tão fácil superar outros dezessete anos.

Limpei a garganta umas três vezes antes de ter coragem de abrir a boca novamente.

— A minha mãe se foi, José. Eu não vou vê-la de novo — expliquei, sem deixar a voz falhar, mas com menos firmeza do que o normal.

— Não se preocupa. A gente acha ela — ele disse, passando a mão no meu braço, como se tentasse me consolar. — As mamães sempre voltam. Ela te ama, ela vai te encontrar.

Foi difícil não deixar as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Tive um dos típicos ataques de piscadas detentoras de choro e sorrir para o menino. Morte nunca foi um assunto muito fácil para discutir com crianças e eu não queria arrancar a cortina de fantasia que o menino ainda tinha sobre o mundo real. Então apenas sorri e me levantei, convidando ele para sair comigo dali.

Após me corrigir por ter o chamado de José, que, mesmo que fosse o nome dele, ele não gostava, ele me arrastou até o "refeitório". Não pude evitar olhar para as pessoas à nossa volta. Devia haver umas cinquenta pessoas naquele complexo, o que nem de longe era o exército que precisávamos. O garoto apenas me puxou até a mesa mais próxima e fomos recebidos com sorrisos amistosos de alguns na mesa, enquanto a maioria discutia sobre algo que tinham visto na TV. Em pouco tempo, antes da comida ser servida, Miguel entrou no local e subiu em um banco, chamando a atenção de todos com um assobio.

— Peço a atenção de todos, por favor. Tenho um anúncio a fazer — E em questão de segundos o local ficou em total silêncio, com todos os olhos fixos nele. — Poucos aqui sabem que tínhamos algumas pessoas escondidas aqui. Elas são alvos das forças armadas de nossa nação e é fundamental que os mantivéssemos em segurança. Ontem, eu tive uma conversa com uma dessas pessoas, que, após ficar à pá do que sabemos sobre nosso inimigo, concordou em nos ajudar.

Miguel fez uma breve pausa a fim de me encontrar na multidão, fazendo um gesto em reverência com a cabeça em minha direção ao fixar os olhos em mim e eu me levantei, o que atraiu uma grande quantidade de olhares surpresos e confusos.

— Vossa Alteza Real, o príncipe Willard Liam de Bragança Ravache Persilhes, As Guarras de Etama, não está morto! — disse com a voz firme e até mesmo tive a impressão de que estava mais alta que o normal. — Apesar do atentado na pista de decolagem na base aérea próxima a Dagma, do qual os inimigos de nossa nação nos acusam, ele sobreviveu graças a o resgate não programado que alguns de nossos homens efetuaram. Os inimigos da coroa querem que o povo pense que ele está morto e que nós o matamos. Mas agora, nosso senhor, o príncipe, está do nosso lado e vai lutar conosco por Etama!

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Desculpa gente, eu não queria adiar ainda mais os capítulos e não tive tempo para achar uma foto para esse. A foto do capítulo anterior combina mais com esse, mas ele já estava salvo nos rascunhos e não tive como salvar ele e colocar aqui kkkkkkk

Jogos da Ascensão II - As Garras de EtamaWhere stories live. Discover now