Capítulo 5

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— Eu me lembro do dia em que te vi na piscina — me ouvi dizer, sentado ao lado de seu leito, enquanto brincava com seus dedos, sentindo suas mãos um pouco ásperas por todo o trabalho que fazia antes de conhecê-la. — Fiquei impressionado... Ter largado tudo e ido até ela, e não ter só salvo a garota, mas também ter a ajudado a completar a prova. Senti um respeito e uma admiração... Enxerguei em uma formiga a garra que só tinha visto antes em uma onça. Por isso te escolhi para ele. Você merecia ser uma. Só não esperava que... Que fosse querer estar no lugar de Tommy...

Com dificuldade, um sorriso surgiu em meu rosto, pequeno e nem um pouco elegante.

Foi como tudo começou, quando tornou-se difícil cumprir com minhas promessas, difícil não ser egoísta, ter controle sobre mim. E foi essa minha fraqueza que nos levou a estar naquela situação.

Ela estava ali, com grandes marcas escuras sob os olhos, cabelos embaraçados e suas mãos bem quentinhas. Os tubos tornavam difícil associar sua imagem com a da bela garota que me enfrentou enquanto pagava por sua boa ação. Ela ganhou um pouco mais do meu coração naquele momento. A forma com que gritou comigo, aquele olhar. Eu não tenho dúvida que ela teria me rasgado com as unhas se não estivesse presa e ou se não tivesse sido puxada para o fundo da piscina.

— Meu erro foi me deixar sentir — disse a ela. — Eu devia ter me freado, ter recuado, sabe? Mas eu caí em uma sequência enorme de erros, odiando a forma como me sentia perto de você. Mas... mesmo que aquilo me incomodasse, eu... eu não conseguia ficar longe. — Bufei. — Eu devia ter ficado longe. Talvez não estivéssemos aqui...

Aproximei meu rosto de sua mão e implorei por seu carinho. Eu queria sentir algo, queria senti-la, e minha garganta ameaçava se fechar ao passo que lutava com as lágrimas em meus olhos.

Busquei por seu rosto mais uma vez e me inclinei sobre ela, deixando um beijo em sua testa, um beijo que pensei não ser capaz de finalizar.

— Eu vou arrumar isso, meu amor — sussurrei. — Custe o que custar.

...

— Acho que o senhor não me entendeu — disse o homem em minha frente. — O estado da senhorita Bilac é delicado, precisamos mantê-la em coma para que fique estável até termos os medicamentos que precisamos.

— O G6 que usaram em mim.

— Exatamente. Usamos o que tínhamos no senhor, seu estado era grave, mas facilmente corrigiu com o que tínhamos em mãos. Se tivéssemos tratado ela, o senhor poderia ter morrido. Ela, apesar do estado atual, está viva. E infelizmente não temos recursos para conseguir mais do G6 que usamos no senhor,

— E não tem como conseguir? Vocês não podem roubar de algum lugar, ou algo assim?

— Sua Alteza, nós não somos ladrões.

— Sou irmão do rei e ela é um membro novo e valioso da família. Acredito que possa dar um jeito. Até onde sei tudo o que há no reino tecnicamente pertence ao meu irmão. Então não seria roubo tomar o que é nosso, seria?

— Tente usar esse argumento diante da polícia ou seus guardas — disse o senhor grisalho, passando a mão em seu cabelo, que estava preso em um rabo de cavalo. — Acredite, eu quero ajudar a garota, mas eu não posso fazer isso. Mesmo que tentássemos roubar o G6, porque, acredite, nós precisamos deles, não dá! Já tentamos e graças a isso a segurança aumentou. Ainda mais agora...

— "Ainda mais agora?"

E foi então que soube. Com o ataque e nosso desaparecimento, o caos se instalou no reino. As revoltas foram crescendo ao passo que mais ataques surgiam, o povo tentando resolver as coisas com as próprias mãos e a imprensa em busca de respostas, forçando Ric a tomar a mais pesada das decisões: instalar lei marcial, dando aos militares o poder de restaurar a ordem no país, uma lei que o conselho estava tentando fazer-lo assinar desde antes dos Jogos, quando ainda conseguíamos abafar o que estava acontecendo por todo o reino. Um decreto para que todos os rebeldes e envolvidos fossem condenados por traição e sentenciados à morte, fazendo de sua captura a prioridade número um de nosso reino. Eu já havia alertado meu irmão sobre aquilo, ele não deveria assinar. O reino todo sofreria e agora eu entendia o motivo de terem nos tirado de Fortal para um prédio no interior em outra capitania.

Jogos da Ascensão II - As Garras de EtamaWhere stories live. Discover now