- Capítulo 18 -

2.3K 277 112
                                    

Sonhei que estava em um veículo em movimento e vi minha irmã chorando. As pessoas em minha voltam parecia agitadas, preocupadas com algo, mas eu não conseguia dizer para eles que ficassem calmos, que, independente do que fosse, eu daria um jeito. Depois disso, não lembro de mais nada.

A sensação era de que arranjo de percussão havia passado horas trabalhando dentro de minha cabeça. Tabores, pandeiros, chocalhos, triângulos, sinos e pratos. Todos unidos afim de causar os latejos em mexer a cabeça alguns centímetros apenas. Entretanto, o leve incomodo na cabeça não era nada comparado com a dor que parecia ter tomado cada pedacinho de meu corpo. Não aquela dor prazerosa de quando se está cansado e enfim se permite relaxar o corpo. As dores eram de músculos exaustos, de uma corpo que implorava trégua.

Até o simples ato de se abrir os olhos parecia uma tarefa difícil, como se eu não dormisse a dias. Quando tentei trocar de posição na cama, sentir uma pontada tão forte em minha perna que me fez gritar. Quando que de imediato sentir uma mão em meus cabelos, seguida da voz de Aliena, que perguntava se eu estava bem.

- Ena? - perguntei, surpreso, devia a mudança em sua voz. Eu sabia que era ela, mas algo estava diferente. Não saberia explicar. Eu reconhecia a voz, mas não era a mesma que eu esperava ouvir.

Cheguei a pensar que talvez fosse apenas impressão, pois minha própria voz não parecia a mesma. Minha boca estava seca, a garganta inteira estava e seu nome havia saído baixo quase como em um sussurro rouco.

- Você está bem? - a ouvi perguntar, mas meus olhos ainda pensavam, tornado preguiçosa a tarefa de os abrir.

- Não muito... - resmunguei, enquanto suas mãos me faziam cafuné. - Pra ser sincero, acho que nem um pouco.

- Tadinho do meu nenê. - disse ela, com aquela voz manhosa que sempre usava comigo quando queria parecer compreensiva ou então quando queria me convencer a fazer algo.

Algo dentro de mim gritou de saudades. Um sentimento que todos conhecem, mas que poucas línguas tenham lhe dado um nome, fazendo pouco caso para com esse sentimento de falta, da mesma forma que tentam nos conversar a não dá importância para o que se foi e deixou saudade.

Eu não queria sentir falta de ninguém. Era ruim demais. Tudo o que eu queria era que todos estivessem ali por mim, pelo menos enquanto eu estivesse doente.

- Papai já chegou? - perguntei, abraçando meu lençol.

- O que? - ouvi, fazendo meu coração apertar.

Ele havia prometido, havia dito que voltaria mais cedo. Eu estava doente. Ele devia está comigo.

- Você não vai embora de novo, não é? - me ouvir perguntar, com a voz fraca, quase que como em um choramingo. - Por favor, Ena.

- Liam, do que está falando? - ela começou a perguntar em um tom preocupado.

- Não deixa a gente de novo. O Ric nem brinca mais com a gente. Mamãe diz que é porque ele está com saudade, mas eu também estou. Tommy disse que eu não devia chorar, mas eu chorei. As outras babás não são como você...

- Liam? Olha pra mim. - disse, puxando meu rosto para que eu abrisse os olhos e lhe visse. - Você está bem?

Relutante, abrir os olhos e a visão que tive não foi da Ena que costumava cuidar de mim e de meus irmãos. Aquela Ena havia sido substituída por uma mais velha, mas que ainda prendia o cabelo em tranças. Aos poucos eu voltei a realidade atual. Aquele não era meu quarto e eu não era aquele garotinho doente com saudades de sua babá. Por alguns minutos eu havia voltado no tempo, e em um piscar de olhos nove anos de passaram, mas eu ainda era o mesmo garoto, um pouco maior, porém, ainda me sentia melhor com minha babá por perto.

Jogos da Ascensão II - As Garras de EtamaWhere stories live. Discover now