- Capítulo 19 -

2.2K 288 161
                                    

Eu tinha uns onze anos quando Ric nos contou que ele e Cassandra iriam se casar e ter um bebê. Lembro de ter ficado confuso com tudo aquilo. Eu estava doente na época e Tommy foi até meu quarto para contar sobre a conversa que havia ouvido entre nossos pais e nosso irmão. Ele lhes contara que havia acidentalmente engravidado Cassandra e que iria casar com ela afim de se responsabilizar por seus erros. Perguntamos um ao outro o que aquilo significava, mas ainda eramos muito ingênuos para entender o significado de tudo aquilo.

Quando nos acostumamos com a ideia de termos mais uma criança em casa, a "triste" noticia que Cassandra havia perdido o bebê foi dado por nosso próprio irmão. Nos não seriamos tios e Tommy ficou um pouco decepcionado com aquilo. Eu não fiz nenhuma perguntar naquele dia. Mesmo muito jovem eu havia percebido que ele não estava bem.

Para a maioria das pessoas talvez fosse um alivio que eles não tivessem esse filho tão jovem, levando em conta que ele nunca tivera sentimentos por Cassandra. Pelo menos não do gênero amistoso. Entretanto, de uma forma complicada, meu irmão havia se acostumado com a ideia de ser pai.

O encontrei uma vez, sentado no corredor, olhando pela janela como se procurasse algo nos raios do sol ou no sopro do vento. Ele parecia sozinho sentado ali. Eu não gostara do que vira. Já havia um bom tempo em que meu irmão deixara de sorrir e ficara estranho, isolado e aparentemente machucado. Quando sentei ao seu lado, na esperança de que minha companhia fizesse com que ele se sentisse menos só, ele me envolveu em um meio abraço, beijou minha testa e ficamos ali, em silêncio por um bom tempo.

- Era o meu bebê. - ele disse, mesmo que eu não tivesse dito nada, como se lesse minha mente e soubesse quais eram minhas preocupações sobre as dele - E ele já não existe mais.

- Sinto muito. - eu sussurrei, o que fez os cantos de sua boca se elevarem discretamente.

- Obrigado. - respondeu.

Após isso, Ricardo voltou a passar mais tempo conosco, algo que ele evitava, desde seu rompimento com Aliena. Aqueles dois anos longe dela haviam transformado meu irmão, que passara de um irmão mais velho encrenqueiro para um super protetor e babão. O curioso era que, mesmo se eles estivessem no mesmo ambiente, eles fingiam que eram invisíveis um para o outro.

Quanto mais eu crescia, melhor era minha compreensão sobre aquela questão delicada. Com doze anos eu percebi que Cassandra não gostava de Aliena. Com treze eu descobrir que isso se devia ao fato dela terem sido amigas antes de uma roubado meu irmão da outra, e aos quatorze eu me dei conta de que, apesar de Ric ter se casado com Cassandra, ele ainda gostava nossa babá. Foi quando eu tomei providências para mantê-las longe uma da outra. Convenci nossos pais a me deixar morar em Dagma com a supervisão de Aliena, já que eu não gostava muito o clima sério de Montreal. Anos depois meu irmão me agradeceu pelo que fiz, mas, aos dezenove anos de idade, eu ainda não havia aceito o fato de que não poderia resolver todos os problemas de meu irmão, como a falta que ele sentira de um filho que nunca existira. Isso até o momento em que comecei a desconfiar da verdade sobre o pequeno Jack.

Eu pretendia fazer uma revelação um pouco mais discreta. Eu queria chamar Aliena em particular, entender o que tinha acontecido e lhe perguntar o motivo por ter escondido isso de nos por tanto tempo. Depois disso eu a incentivaria a contar a verdade para Ricardo, mesmo que não fosse fácil, pois eu não deixaria que o herdeiro de Etama continuasse vivendo sem ter conhecimento de sua verdadeiro lugar no mundo.

Meus plano não deram muito certo.

Ela estava ali, ajoelhada com o filho nos braços e meu irmão parecia nocauteado, sem entender o que se passava em sua frente.

Limpei a garganta na tentativa de chamar a atenção de Aliena que, ao se aperceber do que tinha feito, ficou completamente pálida. Antes que qualquer um de nós pudesse fazer algum comentário o grupo que homens que nos escoltavam nos insistiram que continuássemos nosso caminho.

Jogos da Ascensão II - As Garras de EtamaWhere stories live. Discover now