- Capítulo 15 -

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Os dias passaram lentamente, como quando vemos o pó voando na luz de uma fresta. Desde que minha mãe havia ressurgido dos mortos eu não ajudava nos roubos a armazéns e depósitos. O máximo que ela me deixava fazer era trabalhar ali no abrigo durante o dia e ficar de vigia em algumas noites. Não queria ter que enfrentá-la e ter a discussão eu não sou mais uma criança, então obedeci.

Quando eu não estava com Danitria, estava com Jack, ou então com Otávio, se não ajudando alguém no abrigo. Claro que eu assistia as reuniões sobre os assuntos Evelyn, Gustavson os russos e nosso acordo, no entanto, me refreava em fazer comentários sobre. Fazia o papel o telespectador atencioso.

Resolvi que precisava de um dia de folga, nem que esse dia fosse apenas algumas horas. Otávio riu de mim quando eu lhe contei o meu plano, mas mesmo assim aceitou me ajudar.

Quando o sol já havia sumido no horizonte, vi minha mãe conversando com uma senhora que fazia parte do nosso grupo de segurança. Talvez ela fosse um pouco mais jovem que minha mãe que parecia relativamente bem para quem havia tido cinco filhos entre vinte e seis e doze anos e me imaginei com a idade dela. Ric, Tommy e Call tinha uma ideia de como seriam, eram a imagem cuspida de nosso pai. Costumávamos brincar com o fato de eu envelhecer como uma senhora de vestidos, mesmo que mamãe nunca usasse vestidos se não fosse em ocasiões em que isso era necessário.

Eu iria segui reto o meu caminho se Jack não tivesse se agarrado a ela quando um grupo de crianças apareceu correndo no meio de uma especie de um jogo de pega-pega. Aquilo fez com que eu me lembrasse de quando eu era criança e como eu sempre usava ela de escudo quando aprontava alguma coisa. Eu literalmente me escondia atrás dela ou então de Aliena, quando ela estava de babá. Era muito inteligente da minha parte. Ninguém iria brigar comigo se eu me escondesse atrás da minha mãe, nem mesmo nosso pai e quando ela não estava por perto eu tinha a Ena, e poucos eram burros o suficiente para ir de frente com a namorada do príncipe herdeiro, o que fazia dela praticamente a futura rainha.

- Jack. - eu chamei, ainda rindo por lembrar das minhas travessuras. - Deixa ela em paz. Não derruba ela.

- Está tudo bem. - ela disse, passando a mão no cabelo dele, que nem deu atenção para ela e saiu correndo atrás dos outros. - Ele é uma gracinha.

- Eu sei. - respondi, colocando as mãos no bolso.

- Não é o menino que vejo com você por aí? - perguntou, ao que eu assenti. - Engraçado, ele me lembra você as vezes.

- Eu sei que sim. - respondi, desviando o olhar para ele.

Quando voltei a encarar minha mãe, ela me olhava com o mais acusador dos olhares o que me fez rir, já que nela aquele olhar era mais engraçado do que assustador.

- Ele tem oito e eu dezenove. Nem se eu quisesse poderia engravidar alguém aos oito anos de idade. - expliquei com as mãos levantadas em rendição.

No entanto, podia ver em seu rosto que estava preste a se perder em pensamentos. Pensar nela e lembrar de nós despertou em mim um turbilhão de emoções que pareciam prestes a estourar. Não iria entrar em uma conversa sobre Jack antes de resolvermos o que estava pendente entre nós dois.

- Olha. Foi difícil perder vocês. O Ric não estava preparado, nenhum de nos estava. Ele não fazia ideia do que fazer, Tommy ficou em choque por semanas, Call ficou em negação até não aguentar mais, April chorrou por dias e eu entrei em pânico, mas não podia demonstrar porque eles precisavam de mim. Faz ideia do que é perder sua mãe e seu pai e nem poder chorar por eles? - perguntei, já com um nó em minha garganta.

Eu tentava parecer que estava bem com todo aquele assunto, mas eu não podia continuar mentindo para mim mesmo. Minhas palavras pareciam poucas, mas os sentimentos por trás delas eram tão pesados. Uma carga que eu carregava sozinho a muito tempo, que se tornou ainda mais pesada quando ela voltou para minha vida. Em uma tentativa ridícula de manter as lágrimas dentro de mim, levantei os olhos e respirei fundo. Eu havia começado e não podia parar ali. Meu orgulho não me daria outra chance e ela mesma havia me ensina a terminar o que eu começava.

Jogos da Ascensão II - As Garras de EtamaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora