Capítulo 1

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- O que você quer comprar, exatamente? – o capanga resmungão, como Kaíra Fyodorov apelidou mentalmente sem deixar nenhum pingo de dignidade para ele, grunhiu alto enquanto a guiava entre as celas.

- Uma garota. – Kaíra respondeu mais focada em passar os dedos entre as barras, com olhos treinados para não enxergar as vitímas presas, pelo menos não naquele momento. Como o capanga resmungão recusava-se observá-la, odiando ser feito de guia para uma garota como ela, Kaíra não se preocupou com discrição ao grudar os pequenos aparelhos eletrônicos e claros no metal que tocava. – A nephilim que teve as asas cortadas.

- O quê? – o capanga parou, indignado. Ele se virou para Kaíra quando chegaram ao final do corredor escuro e fétido, ecos das vítimas presas os envolvendo por todos os lados. A garota o encarou com olhos verdes ácidos e mortos. – Você é burra? Óbvio que essa garota não ia estar aqui.

- Oh? E por quê?

- Como você não sabe? Você não é a porra de uma mercante?

- Na verdade, - ela invocou uma adaga rudimentar entre os dedos, brilhando em roxo escuro. – não, eu não sou. 

O homem reagiu mais rápido do que Kaíra esperava ao ver a adaga, jogando o peso do corpo contra ela sem pensar duas vezes, assim que finalmente tinha o motivo que eprecisava para machucá-la.

Porém, Kaíra era ainda era mais rápida. 

Ela desviou no último instante antes do homem agarrá-la, girando o corpo para conseguir fincar a adaga nas costas dele. O homem guinchou, mas não pode reagir ao sentir Kaíra girar a lâmina e liberar magia, o esfriando por dentro até que não pudesse mais se mover. 

Kaíra suspirou ao se afastar para deixar o corpo cair no chão, fazendo a adaga desaparecer em seguida. Voltou a colocar os pequenos aparelhos sobre as barras das celas, agora do lado que não pode alcançar anteriormente, e reportou para o resto da operação. 

Finalmente havia terminado a sua parte. 

Após mais dois corredores e escadarias, localizava-se a entrada do que já havia sido uma fábrica pré-era mágica. O lugar era isolado do resto de MegaCity, quase à sua borda. Homens e mulheres se deslocavam pela entrada, compartilhando poucas coisas em comum a não ser a marca da Anklebitters tatuada sobre a pele, uma caveira sem boca feita de sombras ondulosas e uma língua grande esticada, dentro de um círculo formado por uma pequena palavra repetida várias vezes: PHOBOS.

Alguns carregavam caixas pesadas, outros eram responsáveis por acompanhar criaturas muito menores, longe de serem humanas com chifres, caudas, escamas, olhos, cabelos ou pelugem colorida, claramente desnutridas e assustadas a ponto de não terem meios de protestar. O destino das criaturas era sempre o mesmo: Dois grandes caminhões de carga de portas abertas, com motoristas à postos para as levarem dali.

Hektor Virtuuri os assistia trabalhando, sem perceber como encolhia os ombros e a careta de desgosto que fazia, os olhos vermelhos irritados e a boca curvada de forma feia, cabelo negro e denso volumoso que ondulava nas pontas praticamente escondendo os traços faciais até o final do pescoço. Não estava incomodado com o serviço, pelo contrário.

Estava incomodado com quem pediu o serviço, ainda o perturbando naquele momento.

Olhando de canto de olho, viu Oliver Lancaster tão desgostoso quanto ele, mascando um chiclete para disfarçar. O garoto ruivo e alto segurava um taco de baseball de metal negro cheio de pregos sobre um dos ombros largos, mas isso não foi recado o suficiente para o homem branco desprezível de terninho e óculos minúsculos à frente dos dois não incomodá-los, tagarelando sobre como a mercadoria que providenciaram ia ser útil.

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