Capítulo 10

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Sempre demorava alguns instantes para conseguir destrancar a porta do próprio apartamento, tudo graças as diferentes trancas que possuía. Quando terminou já se encontrava mais cansado do que antes, soltando um suspiro ao entrar. 

Como costume, acendeu todas as luzes: Do corredor de entrada, do espaço que se esforçava para chamar de cozinha e da sala de estar, por mais que a luz da cozinha já iluminasse o suficiente. O lugar era pequeno o suficiente para ser considerado mais como sufocante do que aconchegante. 

Logo em seguida, Navi caiu sentado sobre o sofá velho (mas limpo, brilhante e cheiroso) de couro negro.

Soltou uma bufada nervosa ao se sentir imediatamente desconfortável.

Mesmo considerando calças de cós-alto lindas, não conseguia usá-las com frequência. O seu tempo de sobrevivência com elas era bem menor do que o necessário para sobreviver um terço da sua rotina. Por isso, a primeira coisa que teve que fazer foi abrir o zíper da calça jeans clara que usava, detalhe que era o modelo mais largo que Navi conseguiu exatamente para se sentir confortável. 

Depois retirou o celular do bolso e jogou sobre a mesinha de centro (ele também não acreditava que tinha uma mesinha de centro),  e só então pode afundar sobre o couro vagabundo do sofá. 

Virou de barriga para baixo, e o rosto foi parcialmente coberto pelo sofá. Sentia cansaço em todos os ossos do seu corpo. Com o olho azul, pode observar diretamente a varanda da sua sala enquanto apenas tomava aquele tempo para respirar no silêncio do seu apartamento. Dali a vista era inteiramente formada por outros prédios tão decadentes (ou um pouco piores) quanto o dele. 

Então ouviu um miado longo e uma patinha afundou no coro ao lado do rosto.

Navi piscou, movendo os cílios grossos e grandes no processo, e ergueu o rosto o suficiente para encarar a dona da patinha e causadora do som: Sua gatinha o encarava de perto no apoio de braço do sofá, miando mais uma vez ao conseguir a atenção dele. 

Ela acabou de fazer um ano sem ter crescido muito, com a pelugem negra e brilhosa volumosa, moldando o rosto em volta do focinho avantajado e os olhos esbugalhados muito afastados um do outro heterocromáticos, um amarelo e outro castanho.

- Cibele. – Navi sorriu quando ela se esfregou sobre o rosto dele, miando mais alto do que precisava. Ela não escutava muito bem, então não diferenciava os volumes da própria voz. – Você sentiu minha falta, garota?

Quase como se o respondesse, ela miou mais, subindo sobre Navi. Navi riu alto, o som infantil e alegre ecoando pelo apartamento, e virou de barriga para cima para que a gata deitasse sobre o seu peito, como sempre fazia. 

Navi deslizou as mãos entre o pelo dela para acariciar a sua cabeça e costas enquanto encarava o teto do próprio apartamento agora, deitando sobre o cabelo ondulado e repicado que bagunçava ao se espalhar pelo sofá. 

Tudo que ouvia no momento era Cibele ronronando como um tratorzinho sobre o peito e os sons da vida noturna que se iniciava em MegaCity do lado de fora. Quando se morava em um dos bairros neons sozinho desde os dezesseis anos, não tinha como não se acostumar com os barulhos. 

Bairros neons eram áreas dos distritos MegaCity em que não havia distinção entre legalidade e ilegalidade dentro do lazer oferecido pelos estabelecimentos comerciais. Alguns eram inteiramente focados em cassinos, outros em bordéis, outros em boates e outros que eram difíceis de nomear - e também controlados por facções e gangues. 

Obviamente, esses também eram os bairros mais baratos de se morar.  

Navi ouviu som do seu celular vibrando. Lentamente, esticou o braço para pegá-lo, fazendo o melhor que podia para não perturbar Cibele, sorrindo de forma orgulhosa ao conseguir.

Blue/Red Black [BL] (✔)Where stories live. Discover now