Capítulo 9

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Ronan ouviu uma leve cantoria ao acordar. 

O som era baixo e meigo, nada que fosse alto ou incômodo o suficiente para acordá-lo. Na verdade, acordou ao tentar virar o rosto e sentir uma dor intensa no pescoço. Ele ergueu o rosto, sentindo dor por toda a área da nuca até os ombros, e percebeu que apagou por, provavelmente, cinco minutos sobre a sua escrivaninha no seu setor de OIS da agência de segurança.

Não se lembrava como isso aconteceu. Mas não precisou se esforçar muito para deduzir, vendo o tanto de documentos que o rodeava por todos os lados na escrivaninha e no chão abaixo dela, empilhando ao redor dos seus pés, denunciando que ficaria preso dentro do escritório até tarde da noite de novo.  

Quando finalmente conseguiu sentar apoiando as costas no encosto da cadeira, pode ouvir todos os músculos estralarem ao mesmo tempo. Ronan abriu o olho e uma das primeiras coisas que viu foi o celular sobre a escrivaninha ao lado dos papéis. Um sentimento ruim se apossou dele por conta do aparelho.

Melhor dizendo, voltou a ficar socialmente ansioso por conta do aparelho.  

Não havia nada de errado com o eletrônico. Era apenas um celular. Ainda assim durante toda a terapia que fez pela vida, sempre ouviu que eletrônicos, assim como a internet, poderiam se tornar fixações não saudáveis para ele por conta do escapismo que ofereciam, então sempre se esforçou em evitar isso e focar em outras coisas, como o treinamento de controle da própria magia e, depois, o trabalho. 

Resumindo, não era muito apegado ao celular. 

Isso até dar o número para Navi.

Agora, a sua primeira vontade após acordar era pegar o celular para checar se Navi havia mandado mensagem. Não queria deixá-lo esperando muito tempo enquanto conversavam, mesmo que fosse apenas virtual e, no momento, a conversa não tivesse nada a ver com a sua situação com Peeta.

Ele se debruçou de novo e bateu a testa sobre a madeira da escrivaninha. Não com força, pois o ato era apenas simbólico, como se fosse possível para ele deixar de ficar socialmente ansioso e cansado batendo a cabeça várias vezes na madeira. Tinha certeza que foi dessa forma que caiu no sono mais cedo.  

Será que a sua mente super aquecia tanto ultimamente que por isso começava a desligar do nada? Tipo um processador de computador fraco? Ronan deveria se preocupar de verdade dessa vez?

Enquanto se questionava, continuou ouvindo a cantoria. Virou o rosto na direção do som, e seu olho queimou por debaixo dos óculos, desavisado e desacostumado, com a luz que encontrou ao encarar Astra sentado na escrivaninha à frente. Ele tinha os cabelos cacheados e volumosos loiros soltos, apoiando o rosto sobre as mãos ao cantarolar baixinho uma melodia sem letra, irradiando um tipo de aura rosada e luminosa que com certeza deveria estar ligada com a sua magia. 

Ronan percebeu que ao mesmo tempo que sua parte das escrivaninhas embutidas havia se tornado uma sombra negativa por conta do cansaço que sentia e outros problemas, a parte de Astra parecia um painel de romance pintado em rosa pastel, com direito a decoração de flores graças ao seu ótimo humor. 

Isso era raro de se ver. 

Em geral, Astra era uma companhia positiva. Se ninguém o irritasse (se Dylan não o irritasse), ele era como um raio de sol em formato de pessoa. Mesmo assim, Ronan não estava acostumado a vê-lo tão explicitamente feliz a ponto de irradiar uma aura diferente como agora. Algo muito bom deveria ter acontecido, mas Ronan não se lembrava de nenhuma notícia de feriado ou qualquer promoção. 

Ronan não era o único confuso sobre isso, na verdade. Olhou ao redor e pegou outros OIS do setor encarando Astra uma vez ou outra para entenderem como ele estava tão feliz se o trabalho não diminuiu para ninguém, inclusive o dele próprio pelo tanto de documentos que Ronan contou sobre a mesa dele. 

Blue/Red Black [BL] (✔)Where stories live. Discover now