Lama

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Camila POV

Chegamos no acampamento e a cavaleira branca me levou até o meu alojamento e me colocou no chão assim que chegamos na porta do mesmo, ela entrou e eu fui logo atrás dela.

— Soldado Hansen - chamou pela loira e ela apareceu nos corredores de cama, já estava com o pijama que recebemos aqui - venha até aqui.

— Sim primeiro sargento - falou batendo continência assim que chegou próximo o bastante da gente, algumas pessoas que ainda estavam acordadas ficaram nos olhando.

— Quero que você ajude a soldado Cabello esse noite - ela falou sem me olhar e então a loira me olhou sem entender em que ela poderia me ajudar, nem eu mesma estava entendendo o papo - ajude ela indo até o banheiro e esperando ela até que termine e volte com ela até o alojamento.

— Sim primeiro sargento, posso fazer isso sem problema algum - falou ainda com o cenho um pouco franzido.

Ela apenas fez sinal com a cabeça e saiu sem me olhar de dentro do alojamento e eu estremeci quando ouvi outro trovão, caminhei ao lado da loira até o banheiro e ela ficou me esperando mesmo até que eu saísse do banheiro.

— Você não tem jeito mesmo né? - falou quando sai do banheiro - como que tu se perde desse jeito, era só não sair de perto da gente.

— Eu vi uma coisa se mexer e fui atrás pra ver o que era - ela me olhou incrédula.

— Você tem quantos anos? - revirei os olhos e mostrei a língua e ela negou com a cabeça.

Fomos em direção ao alojamento e tinha uma vasilha diferente das que usamos no nosso refeitório, estava tampada e quando eu a peguei senti que estava quente, abri a tampa e vi que era sopa. Abri um sorrisão e comecei a comer a sopa soprando a cada colher que leva até minha boca. Assim que terminei de comer eu deixei a vasilha ali do lado e me virei para a loira.

— Ei - chamei e ela tirou o lençol de seu rosto para me olhar.

— Dinah - ela falou e eu franzi o cenho sem entender - meu nome, Dinah é o meu nome.

— Ah tá, o meu é Camila - falei estendendo a mão em sua direção e ela apenas deu um soquinho - eu posso te pedir uma coisa?

— Garota? - ela falou erguendo as duas sobrancelhas, eu continue a olhando esperando sua resposta - tudo bem, o que você quer?

— Eu posso dormir com você? - faço um beicinho e junto minhas mãos na frente de meu rosto a olhando - por favor!

— Você tá zoando né? - ela se sentou na cama e me olhou com um ar risonho e eu neguei com a cabeça.

Quando ia falar alguma coisa ouvi outro trovão e então me joguei por cima dela e puxei a sua coberta me cobrindo e ficando ali embaixo.

— Você tem medo de trovão? - não me movi nem sequer um centímetro e então ela ergueu a coberta e cobriu sua cabeça me olhando - não vai responder?

— Eu tenho, muito muito medo - foi o que falei e esperava do fundo do meu coração que estava só o turu turu aqui dentro, que ela não me tirasse daquela cama.

— Eu mereço...

Foi a única coisa que ela disse antes de se ajeitar na cama e me deixar dormir com ela. Foi a pior noite da minha vida, eu só queria o meu pai, ele sabia o que fazer quando eu estava assim, depois de muito sufoco e pulos de susto com os trovões eu finalmente consegui dormir.

— Hansen e Cabello - pulei da cama e Dinah e eu nos levantamos na mesma hora olhando em direção aquela voz - qual o motivo de estarem dormindo juntas na mesma cama?

— É que - Dinah não conseguiu terminar de falar.

— Não aceitamos esse tipo de comportamento aqui dentro - arregalei meus olhos quando percebi o que a creme dental estava insinuando com aquelas palavras.

— Não é nada disso - falei rapidamente e me levantando da cama - eu só estava com medo dos trovões - falei baixo - você sabe...

— Todo mundo pra fora - ela falou alto ainda com os olhos em mim e ignorando o fim da minha frase - já perdemos o dia de ontem, não podemos perder o de hoje também, fiquem sabendo que tudo lá fora está só a lama e isso não vai impedir vocês de rastejarem naquele chão.

— Sim primeiro sargento Jauregui - todos nós falamos em alto e bom som batendo continência.

Ela ficou parada observando todo mundo sair de dentro do alojamento e irem em direção aos banheiros, esperei que todo mundo saísse, fiquei fingindo pegar as coisas que precisaria para o banho, assim que vi que todo mundo já tinha saído e ela também já estava saindo eu corri para ficar ao seu lado.

— Quero te agradecer por ontem - falei rapidamente e ela nem sequer parou de andar.

— Não precisa, eu faria por qualquer um - disse sem ao menos me olhar e eu fiquei logo emburrada.

— Eu sei, mas eu só quis ser educada e agradecer você - falei batendo um dos pés no chão e cruzando os braços parando ao seu lado e então ela parou e me olhou.

— Me agradeça fazendo as coisas corretamente e não se metendo em encrencas - ela dizia sem tirar os olhos do meu - isso sim seria um ótimo pedido de desculpas.

Respirei fundo e soltei a respiração com raiva e me virei saindo de perto dela, tomara que ela caia de cara na lama pra deixar de ser tão azeda. Custava dizer "de nada" pronto, não iria cair pedaço nenhum do corpo dela, cheguei no banheiro e tomei um banho rápido já que perdi minutos agradecendo a versão feminina do Shrek.

Depois de ter saído do banheiro devidamente fardada e ter ido até o refeitório e comido, já estava ao lado da loira que agora sei se chamar Dinah, estávamos esperando a tapioca de coco aparecer para começarmos nosso treinamento. Não demorou muito e ela já estava ali toda poderosa a nossa frente.

— Os rapazes fizeram esse obstáculo hoje de manhã cedo - ela apontava para uma piscina imensa de lama, acho que tinha uns dez metros de lama ali - vocês vão pegar rifles sem munições e vão passar se arrastando por baixo dessa rede de arame - oba, vamos brincar de peppa pig - quem consegui em um tempo bom e tiver um desempenho melhor irá passar para a major Kordei e eu não serei mais a pessoa a treinar quem conseguir...

Recebemos nossos rifles e ficamos mais uma vez em fila, só que dessa vez não iria um de cada vez, assim que entrasse dois um do lado do outro e começasse a rastejar ali, já poderia entrar mais dois, foi o que fizemos.

Entrei junto com Dinah e ela como sempre se saiu super bem, eu parecia uma minhoca tentando rastejar em uma piscina de manteiga, o rifles me atrapalhava e meus cotovelos estavam doendo, o capacete em minha cabeça era enorme e eu já tinha metido minha cara na lama incontáveis vezes. Se eu sorrir vai escorrer lama por entre meus dentes tenho certeza, as pessoas que vinham atrás de mim e não conseguia passar, passavam pelo meu lado, resultado, fui a última a conseguir sair dali e só consegui pois o tal Fernandez jogou uma corda e me ajudou puxando.

— Você é uma perca de tempo - uma mulher baixa falou e bateu no meu ombro com o ombro dela assim que passou por mim.

— Soldado Souza - ouvi a voz de Jauregui e ela se aproximou - espero que você não abra mais sua boca para falar esse tipo de coisa - a mulher ficou pálida e eu só queria que ela cagasse na roupa de medo pra deixar de ser metida a fodona - pague trinta ali, e você - ela apontou em minha direção - banheiro.

Sai dali correndo vai que ela mudasse de ideia, entrei no banheiro e me olhei no espelho, de branco no meu rosto só tinha meu olho mesmo pois até meus dentes tinham lama. Fiquei olhando pro espelho e arregalando e fechando meus olhos, estava engraçado e fiquei rindo sozinha comigo mesma. Voltei já pronta para dormir, não estava afim de comer, fui subir na beliche e meu pé escorregou na escada bati meu queixo na borda da cama, senti o gosto do sangue.

— Senhor - falei tentando subir na cama de novo - na hora de me criar o senhor colocou quantas carradas de desajeitada em mim?


Eu seria totalmente a Camila de inventasse de entrar no exército, a única diferença é que eu já tinha tentado sair desde o primeiro dia chorando em desespero.

Confusão Militar Where stories live. Discover now