Capítulo V: Apuros em Tileade

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Capítulo V

"Apuros em Tileade"

A manhã ensolarada, aliada ao agradável ambiente do porto amigo, compunham juntos uma aconchegante recepção aos ocupantes da nau élfica Briss, que há pouco ancorara no cais do forte de Tileade. Gaivotas davam rasantes sobre as simples construções, ao mesmo tempo em que funcionários do porto vinham auxiliar o descarregamento de mercadorias que, a bordo do recém-chegado navio, seriam agora comercializadas no interior do continente. De pé sobre o tablado, aqueles que acabavam de deixar a embarcação através de uma rampa de madeira podiam observar, no sentido norte e à direita, a convidativa taverna "Gaivota Azul", o nome gravado numa tábua acima da porta junto com uma gravura um tanto tosca. Atrás do estabelecimento, perto do portão do forte, um templo dedicado ao deus Serinius possuía as portas abertas, junto às quais alguns moradores depositavam naquele momento oferendas de peixes e jarros d'água, rogando pelas bênçãos da divindade sobre as atividades que diariamente exerciam. No centro do pátio que se estendia por quase todo o interior da fortificação, três pequenos armazéns recebiam a carga dos navios que ali chegavam. Mais ao fundo, à esquerda, o quartel da guarda repleto de sentinelas deixava claro o quão bem-vigiado era o local. Ao lado dessa construção fora erigido bonito chafariz, onde algumas mulheres então buscavam água, e logo depois se iniciava uma fileira de modestas casas em que residiam os trabalhadores do forte. Lugar em suma que, excetuando a movimentação causada pelo porto, costumava ser calmo e pacífico.

 Lugar em suma que, excetuando a movimentação causada pelo porto, costumava ser calmo e pacífico

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O entreposto encantava e muito Killyk Eleniak. Pisar pela primeira vez numa terra desconhecida, repleta de pessoas com costumes diferentes e locais nunca antes vistos, era algo fascinante para o elfo. Sentia que o reino de Behatar lhe seria fonte de incrível inspiração ao longo de sua estada, principalmente quando presenciasse a coroação do novo rei na capital. Jamais participara de qualquer cerimônia parecida, e o mero pensamento de estar presente nas festividades – andando pelas ruas ricamente decoradas, lotadas de fiéis súditos e estrangeiros entusiastas da celebração, ouvindo o toque de trombetas e testemunhando batalhões militares inteiros se curvando com seus escudos e armas para honrar o monarca – deixava-o a mal conseguir se conter diante de todas as palavras que, unindo-se em versos, despontavam em sua fértil mente para descrever tamanha maravilha. Procurava não ceder à ansiedade, porém. Isso acabaria por atrapalhar a jornada até Borenar, e tecer expectativas demais previamente por certo prejudicaria sua erudição quando chegasse o momento de revelar seu presente. Tentava, desse modo, controlar-se e focar-se somente no instante presente. E este, pintado em tons de azul e cinza numa paisagem marítima que vinha de encontro a um encantador forte costeiro, era-lhe igual fonte de incrível inspiração.

O feliz bardo já ia pôr-se a cantarolar – saltitando para longe das docas – a beleza daquele porto, quando seus olhos miraram a personagem mais intrigante de toda a tripulação do Briss. Lisah, de costas e aparentemente alheia ao rapaz, encontrava-se a alguns metros de distância na companhia de sua loba Kiche, examinando o interior do forte com um rosto sereno enquanto parecia se decidir para onde seguiria. Sempre encantado pela figura da elfa que, além de muito bela, aparentava guardar consigo mais segredos cada vez que era fitada, Killyk adiantou-se para caminhar na direção dela, na esperança de iniciar uma conversa... quando a moça, como se houvesse lido seus pensamentos, passou também a se mover, dirigindo-se com a loba até uma taverna perto dali, a singela "Gaivota Azul". Um veloz pensamento galopou pela mente do poeta, incutindo-lhe que o quase sempre sujo e ébrio ambiente de uma taverna não combinava em nada com a figura de Lisah. Em seguida reprovou-se, achando já estar conjeturando demais em cima de uma elfa sobre a qual quase nada sabia. Mas sim... ele queria descobrir mais.

Heróis de Boreatia: A Perfídia de MackerWhere stories live. Discover now