Capítulo VI: A ponte do riacho Wildeen

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Capítulo VI

"A ponte do riacho Wildeen"

O grupo de viajantes unido em Feritia e dela tendo partido caminhava pela estrada rumo a leste já há algumas horas, a manhã se aproximando do fim com o sol chegando ao centro do firmamento. A paisagem ao redor do caminho se resumia a árvores de médio porte e gramíneas – estas se alternando entre pastos por onde circulavam, aqui e ali, alguns bois e cavalos, e arbustos frutíferos disponibilizando uma contínua oferta de alimento aos raros transeuntes. Era interessante como, com o declínio do hábito de se deslocar entre as cidades de Behatar devido aos perigos dos descampados, estas haviam se tornado praticamente auto-suficientes. Feritia, por exemplo, era abastecida pelos navios provindos do exterior e pelas hortas e pequenas fazendas em torno de si, bem próximas de seus muros. Outras situadas no interior igualmente se sustentavam graças à agricultura e oficinas que possuíam, poucas aquelas que ainda dependiam do comércio ou de outras atividades itinerantes para se suprirem, como Borenar e Krisman – estas, talvez, por também constituírem centros administrativos. O Reino Boreal se reerguia próspero... mas fomentando cada vez mais, devido à insegurança da própria população, o isolamento interno de suas regiões. A coroação do novo rei Jetro I vinha se mostrando um importante fator de coesão, o simples fato de muitos súditos de todas as partes do continente rumarem até a capital para participarem das festividades sendo um indicador de que a tendência de fragmentação acabaria, com o novo governo, desaparecendo... No entanto, caso ela continuasse, não se sabia até quando aquele território permaneceria unido... e que conseqüências eventuais separatismos poderiam acarretar...

Nossos aventureiros, no entanto, não refletiam acerca de política ou qualquer outro assunto similar – coisa que, sob o sol quente, acabaria por contribuir para que fritassem mais facilmente seus miolos. Era fato que o astro de Northar, naquela manhã, parecia importunar os mortais com os raios mais intensos desde o início da primavera. E o que mais sofria com isso era Kal Sul, habituado às gélidas temperaturas de Glacis. Suando sob a armadura e levando seu cantil à boca a quase todo momento, o anão não estava pessimista, todavia: acreditava que logo se acostumaria ao clima mais quente, e tal adaptação tomaria parte em seu processo de conhecimento dos boreais e seus costumes. Animado, seguia à frente do grupo; olhos perdidos no cenário, mas mãos prontas para apanhar seus machados ao mínimo sinal de ameaça.

Logo atrás vinha Fëanor. Espada paterna segura na bainha às suas costas, fascínio pela paisagem talvez maior que o sentido pelo estrangeiro, já que nunca deixara antes Feritia e aquilo tudo, para si, também constituía atraente novidade. Seus parceiros de viagem, igualmente, eram para o rapaz fonte de crescente interesse. Nunca passara tanto tempo na companhia de um anão e de um elfo, ainda por cima tendo-os como companheiros de jornada. Julgava poder aprender muito com eles, obter lições de sabedoria que o ajudariam a se guiar na busca pela verdade sobre si e seus falecidos pais. Só não simpatizara muito com o sujeito de capuz negro e a mulher loira. Aliás, sempre que se aproximava desta última sentia algo estranho, um mal-estar que não era capaz de explicar muito bem. Era como se a aura da carrancuda guerreira, ou seja lá o que fosse, o incomodasse. Procurava ignorar tal coisa, entretanto. Manifestá-la verbalmente não faria bem para o grupo, e só aumentaria seus atritos com a mercenária, que já não aparentava simpatizar muito consigo... Ou melhor, ela parecia não simpatizar com ninguém ali.

Freya caminhava poucos passos antes do garoto. Silenciosa, semblante fechado, mãos na altura da cintura. Usava ainda sua capa, ocultando-lhe assim boa parte do equipamento e armas que trazia. Mulher misteriosa, de forte personalidade... e por que não dizer mortífera? A verdade era que, aos outros quatro, ela claramente tratava-se de pessoa habituada a matar sem qualquer remorso, a cicatriz em sua face muito contribuindo para tal impressão. Contanto que ela não os traísse e se mostrasse uma boa companhia até a capital, nenhum deles teria do que reclamar. Não deixava, porém, de atrair-lhes a atenção de uma maneira não tão dotada de confiança...

Heróis de Boreatia: A Perfídia de MackerOnde as histórias ganham vida. Descobre agora