Capítulo XI: Rimiryn e os orcs

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Capítulo XI

"Rimiryn e os orcs"

O grupo despertou animado, tenho dormido bem e logo de pé para o prosseguimento da viagem. Killyk já havia se recuperado bastante dos ferimentos e quase conseguia andar rápido como antes, enquanto os demais queriam se apressar em deixar aquela região florestal com o temor de que mais gnolls, ou salteadores mais perigosos, aparecessem. Andaram por algumas horas sob um sol brando, até a mata se abrir e revelar uma extensa pradaria. A estrada calçada, cortando por entre a grama, levava a uma cordilheira de montes rochosos parcialmente áridos, um dia ou mais de caminhada adiante. As Terras Altas, famosa barreira natural antes do contínuo terreno plano rumo ao norte até a capital. Aos pés das elevações, um pouco antes das mesmas, podia-se visualizar um conjunto de casinhas singelas, feitas aparentemente de madeira com telhados de palha, alguns fios de fumaça cinzenta subindo de chaminés de pedra situadas em algumas. A vila de Garuny, povoação de agricultores com não mais que cem habitantes. Caleb passara por ela em sua ida até Tileade, enquanto Kirinak tentara contorná-la como pudera, caminhando pelos campos a uma distância segura de olhos intrometidos. Agora, provavelmente, avançariam pelo meio dela, e a idéia não agradava muito à clériga. Porém não se manifestou: o grupo parecia farto de seus protestos.

Continuaram pela via e aproximaram-se do povoado quando Northar estava no meio do firmamento, marcando a metade do dia. Os estômagos começavam a roncar de fome, e alguns desembrulharam de suas coisas os restos de carne de cervo da noite anterior. Comiam enquanto andavam, estranhando um pouco a ausência de trabalhadores nas terras cultivadas perto da vila. As hortas e plantações encontravam-se totalmente vazias, inclusive com ferramentas como enxadas e rastelos deixadas pelo chão de modo a pensar terem sido abandonadas às pressas. No meio do descampado, uma pequena capela de teto cônico se destacava, com cestos de milho, trigo e outros produtos dispostos à porta. Oferendas a Wella, protetora das colheitas. Ao passarem em frente ao templo, Kirinak apressou os passos. Não desejava travar contato com nada que remetesse à sua antiga e sofrida vida no santuário – incluindo a falsa deusa.

Atingiram, logo, a área dominada por casas. E a impressão tida das plantações seguiu prevalecendo: o lugar parecia uma cidade-fantasma. As simples moradas tinham portas e janelas cerradas, embora as chaminés liberando vapor deixassem claro haver alguém dentro delas. Pessoa alguma podia ser encontrada do lado de fora, no entanto, e a brisa vespertina que soprava parecia conceder desalento ainda maior ao lugar. Intrigados, os aventureiros não continuaram avançando pela estrada, gastando alguns instantes numa averiguação do povoado para entender o que ocorria. A única explicação plausível era que, se salteadores não haviam atacado o local e dominado as casas dos antigos moradores, então estes estavam se escondendo de algo ou alguém.

- O que terá acontecido aqui? – questionou Lisah, Kiche olhando para os lados numa demonstração de quase sempre compartilhar dos sentimentos da dona.

- Não sei, mas com certeza não é natural... – murmurou Rosengard, coçando o queixo com a mão que não segurava o cajado.

O silêncio imperava. Por um momento passou pela cabeça de todos a possibilidade de os habitantes de Garuny terem sumido de súbito por conta de alguma magia atroz, enquanto estavam envolvidos em suas atividades diárias. Mas a sombria hipótese se dissipou quando Hachiko viu, atrás da parede de uma das casas, um par de bracinhos e uma cabeça semi-oculta espiando com olhos temerosos os estranhos recém-chegados. Um pequeno menino de cabelos curtos e pele suja sem achar ter sido notado. A elfa de cabelos prateados – que por sua aparência parecia centrar mais a atenção do garoto – adiantou-se na direção dele, fazendo-o recuar assustado. Ela soltou uma leve exclamação para que não tivesse medo e, cedendo à tentação de entrar em contato com uma criatura tão bela, ele parou. A arqueira ajoelhou-se diante dele, sorrindo, acompanhada pelos colegas de viagem.

Heróis de Boreatia: A Perfídia de MackerWhere stories live. Discover now