"Há tanto que não conseguimos explicar,
Talvez estejamos ajudando um ao outro a escapar,
Estou com você."
(Perfect Strangers - Jonas Blue)

Brianna

Escuto um som de mensagem em algum lugar distante, e me agarro mais forte aos travesseiros. Os barulhos continuam, e eu grunho, olhando o relógio. Duas horas e quarenta de sono, terá que funcionar. Tateio a mesinha de cabeceira em busca do celular e aperto os olhos para enxergar alguma coisa, diminuindo a claridade da tela antes de tudo.

"Ei, Bri. É a sua irmã preferida. Como você está?"

Confiro para ver se é a Julia mesmo, ainda que eu saiba que a Cheryl, a Juliette e a Lily são modestas e a Alannah não é muito de conversar comigo. É ela. Sento na cama, de repente muito acordada.

"Como posso ter certeza que não é o Dustin?"

"O Dustin está dormindo, são cinco horas da manhã, quem acorda a essa hora sem ser por dor?"

"O Harvey, e quem quer que esteja me enviando mensagem também."

"Brianna, eu devo estar parecendo um urubu, acordei em um hospital há algumas horas, depois de nem sei quanto tempo. Não vou te enviar uma foto para provar que sou eu." E "Me disseram que nenhuma Brianna me visitou aqui. Acabou o amor?"

Abro um sorrisinho. É ela. A Julia acordou mesmo. Meu Deus, ela está bem. Sinto vontade de chorar, mas me controlo.

"Você sabe por que não fui. Nada pessoal. (Acabou. Não recebi nenhum convite para ser madrinha de um certo casamento)."

Caio nos travesseiros, tão, tão aliviada.

"Estou acordando o Dustin com a luz do celular, mas no meu próximo casamento você será. Prometo. (Só não deixe o meu marido saber disso ;))"

Coloco o celular de lado e encaro o teto, sem saber o que fazer com tamanho alívio. Não vou conseguir ficar aqui, parada, então levanto e encontro o Harvey assobiando na cozinha enquanto faz o café da manhã dele. Ele me vê e estreita os olhos.

— Não fui eu quem colocou pulgas na sua cama, nem vem. Mas já que você está de pé, preciso que garanta que o carro esteja pronto para eu ir para Salisbury para o Natal daqui alguns dias.

— Vi isso ontem, está tudo certo. A Julia acordou. Eu estava falando com ela, ela me mandou uma mensagem, acordei com o barulhinho. Ela acordou e parece estar bem. — minha voz falha. — Soou como a Julia que sempre conheci e até brincou comigo. Eu achei que ela ia... meu Deus. — aperto as palmas das mãos nos olhos, não conseguindo não chorar. — Achei que eu não ia mais ver ela.

— Fico feliz que possa. De verdade. Você está bem?

Limpo as lágrimas com a manga da blusa.

— Estou, por quê?

Ele aponta o espaço debaixo do nariz dele.

— Seu nariz estava sangrando. Tem sangue seco.

Eh. Este é o sabor metálico na minha boca então.

— Acontece às vezes.

Ele me olha e eu olho para ele.

— Sabe, eu não consigo ter uma reação a isso, uma vez que vejo coisas muito piores no hospital, mas me preocupa que você não se preocupe com um sangramento. Se fosse um sangramento epitelial, você deixaria acontecer assim?

Inconstância Where stories live. Discover now