Como prometido, deixo avisado: esse capítulo aborda o início da pandemia de COVID-19. Os personagens principais não estão infectados.

"Se você quiser que eu vá,
Então me diga para ir,
E querido, eu irei."
(July - Noah Cyrus)

Harvey

Noite de karaokê é algo que eu não ouvia falar desde a faculdade, mas o Carson pediu uma reunião e o único lugar plausível para ela acontecer, considerando onde ele mora, eu moro e a Brianna mora, foi aqui. Fico vendo as pessoas cantando enquanto espero eles chegarem, fazendo careta para o quão desafinadas algumas das pessoas são. Ele chega primeiro e já reclama.

— Esse lugar é a cara da Brianna. — isso me incomoda.

Ele não gostar do lugar, tudo bem, mas não precisa ofender a Brianna.

— Tão alegre quanto ela. — comento, tentando fazer ele já parar por aqui com as ofensas. — Bom, não sei por que você pediu essa reunião, mas que bom que pediu, porque eu queria mesmo falar com você. Você não está fazendo o melhor trabalho se não está próximo a maior parte do tempo, a Brianna está fazendo parte do que era para você fazer, já que está muito ocupado ultimamente.

A pálpebra dele treme.

— Trabalho para mais pessoas, você sempre soube disso.

— Sim, mas agora está me incomodando. E também não gostei de como você empurrou a Nara para mim, era quase como se quisesse que eu estivesse em meio à polêmica que envolve ela. E eu jamais faria parte da tentativa de limpar o nome de uma agressora ou de um agressor, só para você saber.

— Onde quer chegar com isso, Harvey? — ele está irritado.

— Talvez eu fique só com a Brianna, se você não melhorar. Estou te dando um aviso porque está comigo há muito tempo, mas precisa mudar se quiser ficar. Não está sendo o que eu esperava.

— A Brianna não tem capacidade de fazer o meu trabalho, pare de se enganar porque acha a bunda dela bonita. Ela vai afundar sua carreira.

— Quem me disse para namorar uma agressora foi você, não ela. E estamos falando só da carreira aqui, o âmbito moral é uma conversa para outro lugar.

— Não pedi essa reunião para ouvir um sermão. — ele diz, como se ele fosse o chefe.

— Se só te vejo uma vez no mês ultimamente, tenho que usar essa vez para falar o que é preciso.

Ele fica em silêncio, e por isso - e por não ter ninguém cantando - consigo escutar a notícia que passa na única televisão que não é do karaokê. Um vírus novo foi descoberto e está assustando autoridades pelo mundo. Bebo o meu suco, lembrando do mês inteiro que o meu pai ficou trabalhando na pandemia de gripe há alguns anos. Foi mais uma aparição do Influenza, e uma que assustou bastante ele. Continuo escutando a notícia. Vírus respiratório, situação preocupante, mais informações por vir. Não soa nada bem para mim.

— Desculpa o atraso, o trânsito está bem ruim na saída do meu condado. — a Brianna diz ao chegar, trazendo minha atenção para fora das notícias e para o quão bonita ela está.

— Aposto que saiu do seu condado, sim, arrumada desse jeito. E em um dia de trabalho, não menos que isso. — o Carson comenta.

— Algumas pessoas pensam nelas mesmas ao invés de passar o dia inteiro pensando na colega de trabalho, Carson. Você podia experimentar fazer isso qualquer dia desses. — sinto vontade de rir, mas aí ela continua. — E não que seja da sua conta, mas tive, sim, um encontro hoje.

A risada se esvai antes de sair da minha garganta. Tento parecer desinteressado ao perguntar, mas por dentro tem uma emoção me matando. Ciúmes.

— Ah, é? Alguém interessante?

Inconstância Where stories live. Discover now