Brianna

Às vezes, amigos precisam de você e não te resta nada além de estar lá por eles, e ainda bem que trabalho o bastante para ter horas de folga para ir até a Flórida na madrugada de uma terça-feira. O Guzman, meu melhor amigo, me ligou pedindo para eu ir até ele porque precisava de mim. Sabendo tudo que ele já passou com a mente dele, levantei na mesma hora e fui para o aeroporto. Enviei uma mensagem para o Harvey explicando que eu ficaria uns dias fora já no avião, mas não levei o carregador do celular na pressa, então não sei se ele viu ou respondeu. Espero que tenha visto, pelo menos, ou ele vai ficar confuso com a assistente não garantindo que as refeições dele estejam programadas na semana.

O fato é, o Guzman está melhor no final da semana e me sinto melhor deixando ele com os outros amigos dele que visitam três vezes ao dia. Deixo um bilhete de agradecimento ao Caleb e à Elle, estes amigos, e peço que verifiquem se ele não está trabalhando além do que precisa para fugir da própria mente. É irônico pedir que alguém faça por ele algo que sei preciso que façam por mim, mas ei, eu não tenho como vizinhos um casal de amigos. O que tenho é Boston, essa cidade que me acolheu quando perdi o rumo, e estar de volta aqui é bom. Vou do aeroporto direto para a casa do Harvey, pensando em adiantar o trabalho atrasado antes de um evento que lembro ter esta noite. O Harvey não vai a tantos eventos geralmente, mas com a lesão, ele precisou se ocupar de alguma forma. Penso já na roupa com que vou e com quem vou falar procurando incrementar nomes na lista de publicidades que ele faz parte.

— Harvey, cheguei! — anuncio quando fecho a porta.

Ele está na varanda conversando com alguém e só acena para mim, então aceno de volta e vou trabalhar antes de me preparar para o evento. Tomo banho, lavo e seco o cabelo, passo mais hidrante que o normal na minha pele porque o clima do deserto faz estragos nela e aí visto a roupa e cuido dos detalhes. Pronta para ir, vou para a sala e encontro a acompanhante de mais cedo também pronta para ir. Achei que era só uma companhia por convidado, eh?

— Onde você vai? — ele pergunta para mim, aparecendo vestido para o evento.

— Como assim onde eu vou? Temos um evento essa noite.

— Eu não sabia quando você ia voltar, então convidei a doutora Felicia para ir comigo. Felicia, essa é a Brianna, minha assistente. Espero que você entenda, Brianna. — ele dá o menor dos sorrisos e pega a carteira e as chaves do carro.

— Hm, nós podemos conversar ali rapidinho? — me dirijo a ele, não querendo que a mulher escute a discussão.

Ele me segue para o meu quarto e olha o relógio.

— Você odiaria que eu chegasse atrasado, por favor, seja breve. — ele diz como um robô.

— É um evento de patrocinadores onde é obrigatório ter um par, e você vai sem quem garante os contratos para você? De onde você tirou essa ideia, Harvey?

— Do fato que você foi para o Texas ficar com o seu namorado. A folga é um direito seu, mas a minha vida continuou aqui e você não me atendeu ou me ligou para dizer quando ia voltar, então é, eu vou sem você. — ele está irritado, e esquecendo uma coisa.

— Você esqueceu que para garantir a sua integridade física preservada, aceito os convites para eventos públicos com o meu nome? Está tudo no nome de Brianna Sun. Como você vai entrar nesse evento sem mim?  — mantenho a cabeça fria e sã, já que alguém tem que usar a cabeça aqui e ele não está sendo essa pessoa hoje. Ele já foi em eventos com o nome dele e o assédio é enlouquecedor, é mais fácil só descobrirem que ele está lá quando chega.

Inconstância Where stories live. Discover now