"Só leva um tempo, garotinha,
Você está no meio do caminho,
Tudo vai ficar legal, tudo ficará bem."
(The Middle - Jimmy Eat World)

Brianna

Ela está aqui. Escuto o som de gotas pingando no chão, e sei que é ela aqui pelo perfume que usa. Ela está aqui e toca meu rosto.

— Esse é só o início, e eu ainda nem comecei com você. Você ainda terá o que é seu.

As gotas continuam pingando e só quando ela sai, só quando eu volto a respirar, que eu reconheço o cheiro do líquido que estava pingando.

Sangue.

Alguém me sacode.

— Brianna. Bri, acorda.

Abro os olhos e sento apavorada, empurrando a Marnie para longe, mas não é a Marnie, é o Harvey e mal consigo mover ele um centímetro. Caio de volta nos travesseiros, fechando os olhos e tentando acalmar meu coração.

— Você estava gritando, achei que alguém tivesse invadido e te machucado. — ele diz, assustado pra caramba. — Está tudo bem?

Estou gritando de novo quando tenho pesadelos. Isso tem que parar. Levanto e procuro minha garrafa d'água, que sempre está por perto e bebo todo o conteúdo dela.

— Está. Eu te machuquei? — aponto o arranhão no braço dele, preocupada. Uma coisa é sofrer sozinha, outra coisa é machucar as pessoas enquanto sofro.

— Não. Foi a Nara, fui encontrar com ela para ela me devolver os três moletons meus que pegou e ela tentou me fazer ficar. Foi a primeira vez que vi a face verdadeira dela. Me desculpa mais uma vez por não ter percebido antes.

Faço que sim com a cabeça.

— Soa como algo que ela faria. E está tudo bem, já passou.

— Eh, acho que sim. Tem certeza que está tudo bem agora? — ele senta na cama. — Você já fez isso outras vezes, mas parou antes que eu pudesse levantar para ver o que estava acontecendo. Eu estava acordado agora, então consegui te acordar.

— Acordado fazendo o quê? — tento desviar o assunto.

— Responda a minha pergunta que eu respondo a sua.

— Está tudo bem, prometo. Foi só um pesadelo. — mentira, é muito pior que algo que a mente criaria, porque aconteceu mesmo.

Cala a boca, cérebro.

— Eu estava tentando achar o chocolate que você comprou no aeroporto e escondeu na cozinha. — ele não parece envergonhado por admitir tentar comer o meu chocolate. — Estava precisando da teobromina.

Levanto o travesseiro, tiro o chocolate de lá e entrego para ele.

— Para quê você precisa da teobromina? São três e vinte da manhã. — indago na voz da assistente.

— Espera, como você sabe que horas são? Aqui não tem relógios e seu celular está carregando na sala.

É sempre a mesma hora que acordo.

— Sabendo. Você vai pegar um plantão? Para quê precisa de chocolate para te dar energia? — insisto.

Ele aponta a cozinha.

Inconstância Onde as histórias ganham vida. Descobre agora