CAPÍTULO V

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Caminhei na chuva para a porta da frente dos Marks e toquei a campainha.

Um dos filhos dos Marks abriu a porta, o mais novo, o calouro na escola. Eu não conseguia me lembrar do nome dele. O garoto de cabelo cor de areia só alcançava meu ombro.

Ele não teve dificuldades para lembrar meu nome.

– Kris? – perguntou, surpreso.

– Quanto quer pela moto? – perguntei, apontando o polegar por sobre o ombro para a placa de vende-se.

– Está falando sério? – perguntou ele.

– É claro que estou.

– Elas não funcionam.

Suspirei com impaciência; isso eu já havia deduzido pela placa.

– Quanto?

– Se quer mesmo uma, pode levar. Minha mãe obrigou meu pai a colocar todas na rua, para serem recolhidas com o lixo.

Olhei as motos de novo e vi que estavam encostadas numa pilha de grama aparada e galhos mortos.

– Tem certeza?

– Claro, quer perguntar a ela?

– Não, acredito em você.

– Quer uma ajuda? – ofereceu ele. – Elas não são leves.

– Tudo bem, obrigada. Mas só vou precisar de uma.

– Podia muito bem levar as duas – disse o menino. – Talvez possa aproveitar algumas peças.

Ele me seguiu pela chuva e me ajudou a colocar as duas motos pesadas na traseira de minha picape. Parecia ansioso para se livrar delas, então não discuti.

Ele acenou quando eu arranquei, ainda sorrindo. Um garoto simpático.

Enquanto dirigia, fiquei um pouco preocupada com a reação de Billy ao me ver. Ele ia ficar muito satisfeito. Na cabeça de Billy, sem dúvida, tudo sairá melhor do que ele ousaria pensar. Seu prazer e alívio só me lembrariam daquele de quem eu não queria me lembrar.

A casa dos Black era familiar, uma casinha de madeira com janelas estreitas, a tinta vermelha desbotada deixando-a parecida com um celeiro minúsculo. A cabeça de Jacob apontou para fora da janela antes mesmo que eu saísse do carro. Sem dúvida, o rugido familiar do motor o alertara de minha aproximação. 

– Kris! – seu sorriso animado se espalhava pelo rosto.

– Jacob! – eu corri para abraça-lo

A chuva agora ficará mais intensa, mas eu não o soltei… poderia ficar ali nos braços dele e nem um guindaste me tiraria.

– Vamos entrar! Você vai ficar encharcada.

Ele foi na frente, torcendo o cabelo com as mãos grandes enquanto andava. Pegou um elástico no bolso da calça e prendeu os cabelos.

– Ei, pai – gritou ao se curvar para passar pela porta da frente. – Olhe quem parou por aqui.

Billy estava na sala de estar quadrada e mínima com um livro nas mãos. Ele baixou o livro no colo e girou para a frente ao me ver.

– Ora, quem diria! É bom ver você, Kris.

Trocamos um aperto de mãos. A minha ficou perdida em seu aperto largo.

– O que a traz aqui? Está tudo bem com Charlie?

– Sim, claro que sim. Só queria ver o Jacob e...

Jacob levantou as sobrancelhas, ele já sabia que eu estava aprontando alguma coisa.

– E então, Kris, o que quer fazer? – perguntou Jacob.

– O que você estava fazendo?

– Estava indo trabalhar no carro, mas podemos fazer outra coisa…

– Não, isso é perfeito! – interrompi. – Eu adoraria ver seu carro.

– Tudo bem – disse ele, sem se convencer. – Está lá nos fundos, na garagem.

Uma fila espessa de árvores e arbustos mantinha a garagem escondida da casa. O espaço não passava de dois grandes telheiros pré-moldados que tinham sido unidos, com as paredes internas derrubadas. Sob esse abrigo, sustentado por blocos de concreto, estava o que me pareceu um automóvel inteiro.

– Que modelo de Volkswagen é esse? – perguntei.

– É um Rabbit antigo... De 1986, um clássico.

– Como está indo?

– Quase terminado – disse ele com alegria. – Agora me diga, o que veio fazer aqui ?

– Jacob, o que você entende de motocicletas? – perguntei.

Ele deu de ombros.

– Alguma coisa. Meu amigo Embry tem uma moto velha. Às vezes trabalhamos nela juntos. E eu também tenho uma. Por quê?

– Bom... – fiz um biquinho enquanto pensava. – Consegui há pouco tempo duas motos e elas não estão nas melhores condições. Pensei se você poderia colocá-las para funcionar.

– Legal! – ele pareceu satisfeito de verdade com o desafio. Seu rosto se iluminou. – Vou tentar. Quando vai trazê-las aqui?

Mordi o lábio.

– Já estão na minha picape – admiti.

– Ótimo.

Contornamos devagar a garagem, grudados nas árvores quando estávamos à vista das janelas. Jacob descarregou as motos depressa da traseira do carro, empurrando uma após a outra para os arbustos onde eu estava. Pareceu fácil demais para ele – pelo que me lembrava, as motos eram muito, muito mais pesadas do que pareciam agora.

– Não estão tão ruins – avaliou Jacob enquanto as empurrávamos pela cobertura das árvores. – Está aqui, na verdade, vai valer alguma coisa quando eu terminar... É uma Harley Sprint antiga.

– Então esta é sua.

– Tem certeza?

– Absoluta, eu só preciso de uma moto mesmo.

– Mas vai custar algum dinheiro – disse ele, franzindo a testa para o metal escurecido. – Antes vamos ter que economizar para comprar as peças.

– Nós coisa nenhuma – discordei. – Se vai fazer isso de graça, vou pagar pelas peças.

– Não sei não... – murmurou ele.

– Tenho algum dinheiro guardado. Do fundo da universidade, não vai fazer falta.

crescent moon - Lua Nova Where stories live. Discover now