CAPÍTULO XVII

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Começamos a subida íngreme e a estrada ficou congestionada. À medida que seguíamos, os carros ficavam juntos demais para que Alice costurasse como louca por entre eles. Reduzimos a velocidade, quase parando, atrás de um pequeno Peugeot caramelo.

- Alice - disse, alarmada.

O relógio no painel parecia estar se acelerando.

- É a única maneira de entrar - ela tentou me tranquilizar. Mas sua voz era tensa demais para ser reconfortante.

Os carros continuavam a avançar, um de cada vez. O sol caía intensamente, parecendo já estar a pino.

Os carros se arrastaram um por um para a cidade. À medida que nos aproximávamos, pude ver carros estacionados dos dois lados da rua, as pessoas saindo para seguir a pé o restante do caminho. De início pensei que era só impaciência - algo que eu podia entender com facilidade. Mas depois chegamos a uma curva e pude ver o estacionamento lotado fora dos muros da cidade, a multidão passando pelos portões a pé. Ninguém tinha permissão para entrar de carro.

- Alice - sussurrei.

- Eu sei - disse ela. O rosto esculpido em gelo.

Agora que eu estava prestando atenção, e que nos arrastávamos bem devagar para perceber, vi que ventava muito. As pessoas que se espremiam pelo portão seguravam os chapéus e tiravam o cabelo do rosto. As roupas se inflavam em volta delas. Também percebi que a cor vermelha estava em tudo.

Camisetas vermelhas, chapéus vermelhos, bandeiras vermelhas pendendo como fitas compridas de cada lado do portão, chicoteando ao vento - enquanto eu olhava, o lenço vermelho brilhante que uma mulher prendera no cabelo soltou-se numa súbita rajada de vento. Girou no ar, acima dela, retorcendo-se como se estivesse vivo. Ela estendeu a mão, pulando, mas ele continuou a flutuar para o alto, um retalho cor de sangue contra os muros antigos e opacos.

- Kris. - Alice falou rapidamente numa voz feroz e baixa. - Não consigo ver o que o guarda aqui vai decidir agora... Se não der certo, você terá de ir sozinha. Vai ter de correr. Apenas vá perguntando pelo Palazzo dei Priori e corra na direção que lhe apontarem. Não se perca.

- Palazzo dei Priori, Palazzo dei Priori - repeti o nome várias vezes, tentando gravá-lo.

- Ou "A torre do relógio", se falarem sua língua. Vou dar a volta e tentar encontrar um lugar isolado atrás da cidade, onde possa pular o muro.

Eu assenti.

- Palazzo dei Priori.

- Edward estará sob o relógio da torre, no lado norte da praça. Há um beco estreito à direita, e ele estará ali, na sombra. Você precisa chamar a atenção dele antes que ele ande para o sol.

Assenti furiosamente.

Alice estava quase na frente da fila. Um homem de uniforme azul-marinho orientava o fluxo do trânsito, direcionando os carros para longe do estacionamento cheio. Estes manobravam e voltavam para encontrar uma vaga no acostamento da estrada. Então chegou a vez de Alice.

O homem uniformizado se movimentava preguiçosamente, desatento. Alice acelerou, passando por ele e indo para o portão. Ele gritou alguma coisa, mas ficou onde estava, acenando frenético para evitar que o carro seguinte seguisse nosso mau exemplo.

O homem no portão vestia um uniforme igual. À medida que nos aproximávamos dele, as hordas de turistas passavam, abarrotando as calçadas, olhando com curiosidade para o Porsche amarelo abusado e vibrante que Alice roubou.

O guarda foi para o meio da rua. Alice posicionou o carro com cuidado antes de parar. O sol batia em minha janela, e ela estava na sombra. Ela estendeu a mão depressa para trás do banco e pegou algo na bolsa.

crescent moon - Lua Nova Where stories live. Discover now