CAPÍTULO XIX

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DEMETRI NOS DEIXOU NA RECEPÇÃO agradavelmente opulenta onde a mulher, Gianna, ainda estava em seu posto atrás do balcão encerado. Uma música animada e inofensiva soava de alto-falantes embutidos.

– Não saiam até que escureça – ele nos alertou.

Edward assentiu e Demetri se afastou às pressas.

Gianna não pareceu nada surpresa com a troca, embora olhasse o manto emprestado em Edward com uma especulação maliciosa.

– Você está bem? – perguntou Edward em voz baixa, baixa demais para a mulher humana ouvir.

– É melhor fazê-la sentar antes que caia  – disse Alice. – Ela vai desmoronar.

Foi só então que percebi que eu tremia, tremia muito, todo o meu corpo vibrando até que meus dentes bateram e a sala em volta de mim pareceu oscilar e ficar embaçada em meus olhos. 

Edward me puxou para o sofá, para longe da humana curiosa da recepção.

Ele me colocou em seu colo e passou o manto grosso de lã à volta do meu corpo, protegendo-me de sua pele fria.

– Toda aquela gente – disse, apavorada.

– Eu sei – sussurrou ele.

– É tão horrível.

– Sim, é. Queria que não tivesse precisado ver isso.

Encostei minha cabeça em seu peito frio. 

Respirei fundo algumas vezes, tentando me acalmar.

– Posso lhes trazer alguma coisa? – perguntou educadamente uma voz. Era Gianna, inclinando-se por sobre o ombro de Edward com um olhar que era ao mesmo tempo preocupado e, no entanto, profissional e distanciado. Não parecia incomodá-la que seu rosto estivesse a centímetros de um vampiro hostil. Ou era totalmente ignorante, ou era muito boa em seu trabalho.

– Não – respondeu Edward com frieza.

Ela assentiu, sorriu para mim e desapareceu.

Esperei até que Gianna não pudesse ouvir.

– Ela sabe o que está acontecendo aqui? – perguntei, minha voz baixa. Eu começava a me controlar, minha respiração se acalmava.

– Sim. Ela sabe de tudo – disse-me Edward.

– Ela sabe que um dia eles vão matá-la?

– Sabe que há essa possibilidade – disse ele.

Isso me surpreendeu.

O rosto de Edward era difícil de interpretar.

– Espera que eles decidam ficar com ela.

Senti o sangue fugir de meu rosto.

– Ela quer ser um deles?

Ele assentiu uma vez, os olhos penetrantes em meu rosto, observando minha reação.

– Como ela pode querer isso? – sussurrei, mais para mim mesma do que procurando de fato uma resposta. – Como pode ver as pessoas fazendo fila para entrar naquela sala horrenda e querer participar daquilo?

Edward não respondeu. Sua expressão mudou, em reação a alguma coisa que eu dissera.

Enquanto eu fitava seu rosto, tentando entender a mudança, de repente me ocorreu que eu realmente estava ali, nos braços de Edward, embora por pouco tempo, e que não estávamos — naquele exato momento — prestes a ser mortos.

crescent moon - Lua Nova Where stories live. Discover now