CAPÍTULO XIV

417 47 1
                                    

NAQUELE MOMENTO, MINHA CABEÇA SURGIU NA SUPERFÍCIE.

Foi muito desorientador. Eu tinha certeza de que estava afundando.

A correnteza não ia amainar. Jogava-me de encontro a outras pedras; elas batiam no meio de minhas costas bruscamente, de um jeito cadenciado, arrancando a água de meus pulmões. Eu esguichava um volume inacreditável, torrentes eram despejadas de minha boca e do nariz. O sal ardia, meus pulmões queimavam, minha garganta estava cheia demais de água para que eu pudesse tomar fôlego e as pedras machucavam minhas costas. De algum modo fiquei num lugar só, embora as ondas ainda oscilassem em volta de mim. Só o que eu conseguia ver em toda parte era água, chegando ao meu rosto.

– Respire! – ordenou uma voz, louca de ansiedade.

Eu não conseguia obedecer. O aguaceiro que saía de minha boca não parou por tempo suficiente para que eu tomasse fôlego. A água escura e gelada encheu meu peito, queimando.

A pedra bateu nas minhas costas de novo, bem entre as omoplatas, e outra torrente de água abriu caminho para fora de meus pulmões.

– Respire, Kris! Vamos! – pediu Jacob.

Pontos pretos floresceram em minha visão, aumentando cada vez mais, obstruindo a luz.

A pedra me atingiu outra vez.

A pedra não era fria como a água; estava quente em minha pele. Percebi que era a mão de Jacob, tentando expulsar a água de meus pulmões. A barra de ferro que me arrastara do mar também era... quente... 

Minha cabeça girava, os pontos pretos cobriam tudo…

Então eu estava morrendo de novo? Não gostei disso. O som das ondas quebrando desapareceu na escuridão e tornou-se um silvo tranquilo e uniforme que parecia vir de dentro de meus ouvidos…

– Kris? – perguntou Jacob, a voz ainda tensa, mas não nervosa como antes. – Kris, querida, está me ouvindo?

Os assuntos em minha cabeça zuniam e rolavam de uma forma nauseante, como se tivessem se unido à água agitada…

– Quanto tempo ela ficou inconsciente? – perguntou alguém. – A adaga ? Você pegou a adaga?

A voz que não era de Jacob me surpreendeu, lançou-me numa consciência mais focalizada.

Percebi que estava parada. A correnteza não me puxava — o balanço estava dentro da minha cabeça. A superfície sob meu corpo era plana e imóvel. Senti-a granulosa em meus braços nus.

– Não sei... – disse Jacob, ainda frenético.  – Não sei quanto tempo ela ficou lá! A adaga está aqui.

Ouvi o barulho de algo ser jogado no chão.

E de repente mãos, tão quentes que tinham de ser as dele, tiraram o cabelo molhado do meu rosto.

– Alguns minutos? Não levei muito tempo para trazê-la até a praia.

O silvo baixo em meus ouvidos não era das ondas — era o ar entrando e saindo de meus pulmões novamente. Cada respiração queimava — as vias aéreas estavam tão sensíveis que pareciam ter sido esfregadas com palha de aço. Mas eu estava respirando.

E congelando. Mil gotas geladas e afiadas golpeavam meu rosto e meus braços, aumentando ainda mais o frio.

– Ela está respirando. Vai voltar a si. Mas precisamos tirá-la do frio. Não estou gostando da cor dela... – Desta vez, reconheci a voz de Sam.

– Acha que tem algum problema movê-la?

– Ela não machucou as costas nem nada quando caiu?

– Não sei.

crescent moon - Lua Nova Where stories live. Discover now