CAPÍTULO VII

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O TEMPO COMEÇOU A PASSAR MUITO MAIS RÁPIDO do que antes. Escola, trabalho e Jacob — não necessariamente nessa ordem — criaram um padrão simples e tranquilo a seguir.

Numa manhã Jacob me ligou dizendo que as motos estavam prontas.

– Jacob, você é absolutamente, sem dúvida alguma, a pessoa mais talentosa e maravilhosa que eu conheço.

Ele riu no telefone.

– Estou indo para aí! – disse e corri para pegar o meu casaco.

Estacionei o carro ao lado da casa dos Black, perto das árvores, para que ficasse mais fácil retirar escondido as motos. Quando saí do carro, uma mancha de cor chamou minha atenção — duas motos reluzentes, uma vermelha, outra preta, estavam escondidas sob um abeto, invisíveis da casa. Jacob estava preparado.

Havia uma fita azul formando um lacinho em volta de cada punho. Eu estava rindo disso quando Jacob saiu da casa.

– Pronta? – perguntou ele em voz baixa, os olhos brilhando.

Olhei por sobre o ombro dele e não havia sinal de Billy.

– Pronta – eu disse.

Com facilidade, Jacob levou as motos para a caçamba da picape, deitando-as de lado com cuidado para que não aparecessem.

– Vamos – disse ele, a voz mais alta do que o normal, de tão empolgado. – Conheço um lugar perfeito... Ninguém vai nos ver lá.

Fomos para o sul, saindo da cidade. A estrada de terra entrava e saía sinuosa do bosque — às vezes não havia nada além de árvores e depois, de repente, tínhamos um vislumbre emocionante do oceano Pacífico, estendendo-se no horizonte, cinza-escuro sob as nuvens. Estávamos acima da costa, no alto do penhasco que cercava a praia, e a vista parecia se estender para sempre.

Eu dirigia devagar, assim podia de vez em quando olhar o mar com segurança, quando a estrada se aproximava mais dos penhascos. Jacob falava de como havia aprontado as motos, mas suas descrições estavam ficando técnicas e eu não prestava muita atenção.

Foi quando percebi quatro figuras paradas numa saliência rochosa, perto demais do precipício. De longe não sabia que idade tinham, mas imaginei que fossem homens. Apesar do frio no ar, eles pareciam estar somente de short.

Então eu me lembrei de algo que eu deveria ter feito a muito tempo.

– Jake, você precisa me levar para pular do penhasco.

– A levarei quando estiver quente. – Jacob olhou para as quatro figuras no penhasco e ficou triste – Embry está com eles – comentou, com a voz baixa – Sam pegou ele ou a natureza… sei lá… não entendo muito bem como isso funciona.

O encarei confusa e não entendi muito bem o que Jake tinha dito.

Quando chegamos no local que Jacob disserá, ele rapidamente tirou as motos da picape.

– Muito bem, onde está a embreagem?

Apontei para a alavanca em meu punho esquerdo. Soltar o punho foi um erro. A moto pesada balançou embaixo de mim, ameaçando me derrubar de lado. Agarrei o punho de novo, tentando mantê-la reta.

– Jacob, não vai ficar de pé – reclamei.

– Vai, quando você estiver em movimento – prometeu ele. – Agora, onde está seu freio?

– Atrás do meu pé direito.

– Errado.

Ele segurou minha mão direita e pôs meus dedos em volta da alavanca acima do acelerador.

– Mas você disse…

– Este é o freio que você quer. Não use o freio traseiro agora, isso é para depois, quando você souber o que está fazendo.

– Não parece certo – disse, desconfiada. – Os dois freios não são importantes?

– Esqueça o freio traseiro, está bem? Olhe... – Ele envolveu minha mão com a dele e me fez apertar a alavanca para baixo. – É assim que você freia. Não esqueça. – Ele apertou minha mão outra vez.

– Tudo bem – concordei.

– Acelerador?

Girei o punho direito.

– Câmbio?

Cutuquei-o com a panturrilha esquerda.

– Muito bom. Acho que você entendeu todas as partes. Agora só precisa colocar a moto em movimento.

Olhei o longo trecho de estrada de terra, cercada dos dois lados pelo verde espesso e indistinto. A estrada era arenosa e molhada. Melhor do que lama.

– Quero que puxe a embreagem para baixo – instruiu Jacob.

Envolvi a embreagem com os dedos.

– Agora isto é crucial, Kris – enfatizou Jacob. – Não a solte, está bem? Quero que finja que eu lhe dei uma granada. O pino foi arrancado e você está segurando o detonador.

Apertei com mais força.

– Ótimo. Acha que pode dar a partida?

Eu concordei com a cabeça e bati o pé no pedal.

Foram necessárias mais quatro tentativas até a ignição pegar. Pude sentir a moto rugindo embaixo de mim como um animal furioso. 

– Tente soltar o acelerador – sugeriu ele. – Muito de leve. E não solte a embreagem.

Hesitante, girei o punho direito. Embora o movimento fosse mínimo, a moto grunhiu embaixo de mim.

 Jacob sorriu, muito satisfeito.

– Lembra como engrenar a primeira? – perguntou ele.

– Lembro.

– Bom, faça isso agora.

Baixei um grau do câmbio com o pé.

– Muito bom – ele me elogiou. – Agora, muito delicadamente, solte a embreagem.

Ele se afastou um passo da moto.

– Quer que eu largue a granada? – perguntei.

– É assim que você anda, Kris. Faça isso aos pouquinhos.

Relaxei a mão aos poucos. De repente, o câmbio engrenou e fui lançada para a frente.

E eu estava voando.

Havia um vento que não estava ali antes, soprando na pele do meu crânio e fazendo meu cabelo voar para trás. A adrenalina percorria meu corpo, formigando em minhas veias. As árvores passavam por mim misturando-se em uma muralha verde.

Mas aquela era só a primeira marcha. Meu pé avançou mais um pouco no câmbio enquanto eu girava para ter mais aceleração.

Ouvi o barulho de outra moto, Jacob agora estava ao meu lado em sua moto vermelha — me acompanhando.

– Vire para a esquerda! – Jacob disse, quando nos aproximávamos de uma curva.

Eu obedeci.

Correr pela estrada desse  jeito foi maravilhoso. A sensação do vento no rosto, a velocidade e a liberdade... Lembrou-me de uma vida passada, voando pelo bosque denso sem uma estrada, carregada nas costas enquanto ele corria — parei de pensar bem nesse ponto, esperando que a lembrança fosse interrompida na agonia repentina. 

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