Águas-Vivas I

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A casa do fim da rua estava sombria como todos os dias. A vegetação se espalhando pela calçada, surgindo no meio das rachaduras do meio fio, as árvores balançando, mesmo sendo um dia sem nenhuma espécie de vento. A mesma rachadura no vidro da janela da frente, refletindo a velha praça e os carros rachados ao meio no lado da rua oposto à janela da velha casa.

Estava longe e ao mesmo tempo tão perto, que eu podia sentir o ar frio que dela emanava. Era sempre assim nos meus antigos sonhos. Sim! os meus sonhos se repetem, são sempre os mesmos lugares. Lugares esses que nunca visitei no mundo acordada, mas sinto que faço parte deles de alguma forma inexplicável. A casa como era de se esperar, estava na mesma rua que descia depois da esquina, do lado da catedral, num declive e depois voltava à subir a praça com bancos verdes, que sempre vejo ao longe sem nunca ter ido lá.

A casa ainda estava lá como no primeiro sonho; A rua, a catedral, a esquina.. Sempre lá. Sonhei com esse lugar umas cinco vezes; Era sempre a mesma casa.
Porém dessa vez estava diferente, a porta estava aberta (Ela nunca abrira antes, nem sabia que podia)
Eu estava indo em direção à ela — Nunca tinha acontecido.
Aproximei-me da porta, devia entrar? Entrei.

A casa estava vazia, nem um móvel na sala ou nos outros cômodos onde entrei. Aquela casa tinha algo de peculiar.. Como se eu já tivesse estado lá. Nunca estive.
Vasculhei a casa outra vez, fui a cozinha, saí pro quintal; Não havia nada, apenas uma imensidão branca.

O quê você está fazendo aqui?

Disse uma voz masculina grave e calma. Ela irradiou de algum lugar da casa, encheu ela toda e sumiu da mesma forma que surgiu.
Virei -me, não havia ninguém. Voltei pra sala.

O quê você está fazendo aqui?!

Repetiu a voz dentro das paredes, em um tom que me fez arrepiar.
Corro até a porta.
Giro a maçaneta.
Acordo
5:35 AM.

Dias de ChuvaWhere stories live. Discover now