Capítulo 23

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Luiza Catarina

Decidi não entrar na casa novamente e fui para a que antes havia sido meu lar. Entro nela com a chave que deixei com o vizinho. Ele perguntou o que aconteceu, disse que era falta do meu pai, apenas isso. Ele me deu um abraço e um beijo na testa, dizendo que ia passar.

Meus vizinhos sempre foram bons comigo, não posso reclamar, mas me afastei muito deles, na realidade, de todos ao meu redor.

Me olho rapidamente no espelho e vejo o quanto o meu rosto está inchado pelo choro. Passo um corretivo e vou para o hospital.

A única coisa que me acalmava era a correria do lugar, que não me deixava pensar. Nos últimos dias, estive livre das dores e saudades, mas agora tudo voltou.

Entro e já está naquele corre-corre que sempre tem no hospital, e agradeço, pois é isso que me deixa livre dos pensamentos.

Na movimentada sala de atendimento, ando entre os pacientes. Primeiro, sou chamada para atender uma jovem com febre persistente. Com minha atenção, faço perguntas detalhadas, examino e recomendo alguns exames para investigar a causa.

Logo em seguida, atendo um senhor idoso com problemas de pressão arterial. Ajusto a medicação e oriento sobre hábitos saudáveis. Enquanto isso, uma mãe aflita aguarda com seu filho, que está com uma tosse persistente. Agora focada na criança, realizo uma ausculta minuciosa e prescrevo o tratamento adequado.

Em outra sala, um homem com dores no peito é levado rapidamente. Ajo com urgência, solicitando um ECG e chamando a equipe de emergência. Mantendo a calma, coordeno os esforços para garantir um atendimento rápido e eficaz.

A diversidade de casos continua: uma adolescente com preocupações sobre sua saúde mental, um trabalhador com lesões leves provenientes de um acidente no trabalho.

Sou chamada para atender uma senhora idosa que relata dificuldades respiratórias. Com cuidado, realizo uma avaliação inicial, verifico sinais vitais e encaminho-a para exames mais detalhados. Enquanto aguardamos os resultados, converso com ela enquanto isso.

-Meus netos são umas bênçãos de Deus, mas brigam muito. - A senhora passa a mão no rosto.

-Imagino, senhora, eu nem penso nisso já para não passar raiva. - Digo, e a senhora sorri.

-Dá raiva sim, mas minha filha, pensa numa alegria que não tem igual. Seus pais vão ficar felizes quando tiver os seus. - Diz sorrindo, e eu forço um sorriso.

-Vou pedir para o outro enfermeiro aguardar aqui com a senhora enquanto vou lá para a emergência, tá bom?

-Ta bom. Que Deus te abençoe.

-Amém. - Respondo.

Logo após, sou solicitada para auxiliar um paciente jovem que acabou de passar por uma cirurgia. Com delicadeza, monitoro os sinais pós-operatórios, ajusto os medicamentos conforme prescrição e ofereço conforto, garantindo que ele esteja em recuperação adequada.

A campainha toca indicando a chegada de um paciente com uma ferida profunda. Com a técnica, realizo a limpeza da ferida, aplico curativos e forneço orientações para os cuidados em casa. Durante o procedimento, tento tranquilizá-lo e esclarecer suas dúvidas.

No corredor, encontro um paciente ansioso antes de um procedimento invasivo. Dedico um tempo para conversar, explicar o processo passo a passo e oferecer apoio emocional. O contato humano é essencial para acalmar suas preocupações.

Em outro momento, sou designada para ministrar vacinas a um grupo de crianças. Com paciência, tento tornar o ambiente amigável, distraindo os pequenos antes da aplicação. Um sorriso e um adesivo colorido muitas vezes são suficientes para transformar a experiência em algo menos assustador .Cada cena na enfermaria é única.

Ao longo do dia, transito entre diferentes cenários, encarando a complexidade e a diversidade da prática médica.

Vejo o horário e a mudança de médicos. Já deveria estar em casa há horas.

-Luiza, tem uma mulher no corredor querendo falar com você - diz Maisa.

-Obrigada - respondo um pouco surpresa, pois hoje não é o plantão dela, e sim da Cristina.

Chego no corredor e vejo minha progenitora olhando com nojo para alguns dos pacientes.

-O que você quer? - chego nela e pergunto sem a paciência com a qual trato os pacientes.

-Quero provar que o Fernando matou seu pai! - Tenta se aproximar, e eu me afasto.

-É o seguinte, quem vai investigar isso sou eu, não você!

-Sou sua mãe, Luiza, me trate com respeito!

-Não tenho mãe, tenho duas vacas que não merecem um pingo de compaixão. E convenhamos, quem deveria estar na urna cinerária eram vocês, não a melhor pessoa deste mundo! - Ela me olha visivelmente irritada.

-Deveria me agradecer por ter poupado sua vida.

-Acha que isso é vida? - Olho para ela indignada. - Acha que sofrer todos os dias pela única pessoa que realmente me amou e morreu por culpa de terceiros é vida?

-Seu pai morreu por culpa dele mesmo!

"Ela está falando, continua, Luiza."

-Meu pai era um bom homem!

-Ele ia falar para o César sobre você ser filha dele - diz com uma voz triste. - O César ia me matar, então eu mandei que o Fernando resolvesse com ele para que ele não contasse, mas eu não sabia que o Fernando ia matar seu pai. - Suas lágrimas caem.

-Guarda as lágrimas para o ritual que seu marido vai realizar em você hoje. Tchau, tenho que resolver algumas pendências.

-Mate o Fernando se quer vingança. - Saio rapidamente, não quero ouvir mais nada que venha dela.

Pego um Uber e vou para casa do Fernando. Tenho que ouvir o que ele quer falar sem mencionar nada do que a progenitora disse.

Chego lá e vou direto para a cozinha, onde todos estão.

-Ótimo, vai me poupar tempo. - Falo, e todos me olham.

-Luiza, vai querer jantar? - Gregory pergunta.

-Tudo que eu menos quero é me sentar à mesa com assassinos. - Digo, e todos mudam seus olhares para surpresos.

-Está falando besteira, Luiza! - Gregory fala novamente.

-Se quer mesmo entrar nisso? Quer realmente acabar com seu futuro? - Matias fala em tom de ameaça, e eu começo a rir de maneira forçada, o que deixa todos ainda mais surpresos.

-Vou explicar uma coisa pra vocês: eu morri há muito tempo. O que sobrava de mim, terminei de enterrar hoje.

-Não faz ideia de onde está se metendo! - Fernando fala com as costas encostadas na cadeira, de braços cruzados na altura do peito.

-Não mesmo, mas estou louca pra ver onde vai dar.

-Está cavando sua própria cova. - Dominic fala.

-Clichê idiota de que tudo acaba com a morte. EU MORRI JUNTO COM O MEU PAI. - Pela primeira vez, falo sobre a morte do meu pai sem chorar; acho que as lágrimas acabaram.

-Luiza, você está nervosa, só isso. Fica calma. - Gregory.

-Eu confiei em você, e hoje é mais um estranho. - Falo com desgosto.

-Pare com besteira, Luiza. Pode confiar em nós. - Matias.

-Nunca mais vou confiar em ninguém!

Não sei em quem acreditar; todos mentem no final. Cansei de ser apenas um peão; agora, serei um rei.

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Pode conter erros ortográficos.

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