Capítulo 1 | Festa

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Anika dirigia em um nível moderado, nem muito rápido e nem lento demais. Naquela velocidade chegaríamos em no máximo vinte minutos a casa de Amélia. Essa que não parava de fazer meu celular vibrar dentro da bolsa.

— Pelo amor dos santos, atenda essa mulher. — Anika bufou acelerando um pouco.

— Calma, calma. — Peguei o aparelho que tocou mais alto ao sair do abafamento da bolsa.

— Oi Mélia.

Até que enfim, né!? Aonde vocês estão? Ou melhor, do que estão vindo? Montadas no casco de uma tartaruga? Espremidas em um jegue? — Tinha posto o celular no alto-falante de modo de que Anika pudesse ouvir também.

— Estamos chegando, esfrie o facho. — respondeu Anika revirando os olhos. Ela odiava os escândalos exagerados da ruiva.

Acho bom mesmo, as coisas estão ficando tediosas aqui sem vocês. — Pelo seu tom de voz melado sabia que já estava começando a ficar bêbada.

— Aguente aí que logo aparecemos. — Encerrei a chamada guardando o celular no bolso. Sorri me sentindo feliz.

— Por que o sorriso? Animada para limpar o vômito daquela cachaceira? — Soltei uma risada dando um soco de leve em seu braço.

— Acabou. Adeus professores irritantes e mal comidos, provas elaboradas pelo diabo e massa de alunos acéfalos que não sabem fazer mais nada além de olhar para o próprio umbigo — disse sentindo o sentimento de alívio se espalhar pelo meu corpo.

Hoje foi o último dia de aula e por esse grande feito, Amélia não poderia deixar de fazer uma festa. E ela mais do que nunca sabia como oferecer as melhores. Sua casa entupia de tanta gente e sabíamos que havia uma certa minoria que não pertencia ao High Olians School.

Anika assoviou.

— O quê? Amber Hunger dando graças a Deus que o ensino médio acabou? Queria estar viva para dizer que estou morta.

E gargalhou me fazendo rir junto.

— Besta. Só estou dizendo o quanto é bom me ver livre da áurea pesada que é o ensino médio, com toda a sua cobrança e pressão.

— Entendo, você tem razão. É bom saber que segunda não preciso acordar cedo. — E soltou outra risada me fazendo bufar. Às vezes esse lado sátiro de Anika me aborrecia. Ela percebeu isso, pois logo emendou:

— Falando sério agora: é como se livrar de umas amarras que foram presas a você lá no jardim de infância. Estou feliz. — Estava concentrada na pista. A rua encontrava-se deserta, tanto por já ser 23hrs quanto por essa área não ser muito movimentada, já que Amélia morava em um bairro afastado da zona central da cidade. Era próximo as colinas, por essa razão havia uma grande parte de vegetação; a rua que levava até sua casa tinha mais de 20km de floresta de ambos os lados.

— Recebeu resposta de alguma Universidade? — Peguei minha bolsa, pois já estávamos chegando. Ao longe podia-se ouvir o som no último volume e luzes iluminando o lado esquerdo da pista.

— Claro que não, você sabe que minha vida como enclausurada da sociedade terminou hoje. A partir de agora sou livre — disse estacionando o carro e o desligando.

Essa vontade de Anika de simplesmente deixar o vento a levar me incomodava, não entendia como alguém poderia não ter objetivos, desejos, metas a cumprir. Ela era assim, como uma folha solta, deixando a brisa a levar para onde ela quisesse.

— Tem certeza disso? — A segurei pelo braço, antes dela abrir a porta.

Ela me fitou de forma intensa. Seus olhos tão azuis que brilhavam na pouca luminosidade que existia no carro. Ela usava um gorro negro, e seu cabelo loiro era exatamente igual de quando tinha 12 anos, quando realmente a conheci. Vestia uma camisa do The Clash, grande demais para seu corpo magro e uma calça preta toda rasgada. Anika era assim, um turbilhão de informações, tanto por fora, como por dentro.

SEGREDOS SUBMERSOS - REVISANDOWhere stories live. Discover now