Capítulo 09 | Confissão

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Quando você é diagnosticado com qualquer tipo de doença mental a primeira coisa que pensa é que está louca. Que sua sanidade está perdida para sempre e que terá que viver a base de remédios para continuar lúcida.

Eu nunca pensei assim quando soube que tinha distúrbio de personalidade, sempre encarei essa doença como algo normal que eu conseguiria manter controlada e que jamais tiraria minha sanidade.

Estava completamente enganada.

Essa doença não só tirou minha sanidade como minha capacidade de saber o que é ou não real.

Eu estava há minutos sentada abraçando os joelhos e encarando o corpo inerte de Amélia na chuva. Pelo menos agora as gotas eram finas e só faziam uma leve cócega em meu rosto. O corpo de minha amiga estava começando a ficar azulado, uma coloração estranhamente bonita, eu podia contar as veias ao redor de seus olhos verdes que estavam ficando brancos, sem contar as pequenas poças de água que haviam neles por causa da chuva. Não consegui fechá-los.

Eu não quis.

Amélia estava tão bonita morta que sorri sentindo vontade de estar bonita daquele jeito. Suspirei ao ser iluminada por um novo clarão, mesmo depois da chuva forte os relâmpagos não cessaram. Encolhi-me sentindo frio, o tecido de meu vestido fino não ajudava em nada, mas não me importei. Amélia não estava com frio, mesmo estando horrivelmente gelada, então por que eu estaria?

Então eu a matei.

Morte.

Matar.

Essa palavra fazia minha língua embolar, mas de um modo estranho eu gostava de sua sonoridade.

Eu era louca e havia matado minha melhor amiga.

Não!

Foi ela.

Ela que fez tudo isso e está tentando pôr a culpa em mim.

— EU SEI DE TUDO! – Gritei comigo mesmo. – PODE SAIR! Eu sei que está aí.

Apertei com mais forças minhas pernas e chorei sentindo meu peito rasgar.

— Amber! Amélia! – Então tudo se repetia.

Comecei a rir, a gargalhar. Minha barriga doía e eu sentia as lágrimas escaparem pelo canto de meus olhos. Estava tudo no roteiro.

O circo de horrores estava completo.

— AQUI! – Gritei em meio a risadas. – Eles estão chegando, Mélia. Eles vão no salvar.

E então Sage apareceu seguido por Dylan, Brian, Yanna e toda a corja.

— Por que demoraram tanto? Amélia está com frio. – Minha voz saiu quase que em um sussurro, duvido que alguém tenha a ouvido.

— Ai meu Deus. Ela está... morta? – A voz de Yanna perfurou meu crânio.

Sage se aproximou da namorada morta e eu vi a dor passar por seus olhos, ao me encarar tudo que vi foi medo. Segurei a respiração.

— Por Deus Amber, o que houve? – Sua voz era fria feito gelo, senti ela acertar minha pele já gelada e a congelar ainda mais.

Sorri de um jeito insano e tombei a cabeça de lado.

— Eu acho que a matei.

***

Eu entendia o motivo de ficar trancafiada naquele quarto branco. Eu entendia perfeitamente.

Eu era louca. Loucos ficavam internados.

SEGREDOS SUBMERSOS - REVISANDODove le storie prendono vita. Scoprilo ora