Capítulo 5 | Encontros

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Meus pais brigavam sem parar no andar de baixo. Meu corpo estava coberto com duas colchas grossas, mais um pijama de moletom e meias. Havia acabado de chegar do hospital, onde o médico disse que se meu pai não tivesse me encontrado logo, eu já estaria morta uma hora dessa por hipotermia.

Meus lábios ainda tremiam e estavam levemente arroxeados, assim como grande parte do meu corpo. Tudo que conseguia pensar disso tudo era como eu tinha ido parar no lago àquela hora da noite e nua.

Forçava minha mente a lembrar, mas tudo era nebuloso demais e já estava cansada de tentar forçar alguma memória. O médico disse que a confusão mental e amnésia era comum nesses casos, mas meus pais não precisavam de uma explicação minha para saberem o que havia acontecido, para eles foi mais um surto.

Não queria acreditar nisso, mas cada vez mais sei que estavam certos. Sempre foi assim, em um momento eu estava brincando com minhas bonecas e no outro instante estava arrancando suas cabeças com um sorriso débil nos lábios, nunca me lembrei do curto tempo que me separava de uma ação a outra. Os especialistas diziam que era porque minha mente não era minha, ela era tomada por outra consciência, para eles era um caso raro de dupla personalidade, o normal era eu me lembrar, porque era eu, só que com atitudes diferentes das minhas, mas como eu não lembrava, era como se outra pessoa se apossasse de meu corpo.

Uma leve batida na porta interrompeu meus pensamentos de possessão e agradeci, pois, esse assunto me deixava apavorada.

- Tudo bem? - Minha mãe perguntou entrando no quarto e fechando a porta. Sentou-se do meu lado na cama e tocou minha mão, fazendo um carinho de leve.

- Sim. - Respondi me encolhendo mais, mesmo que já estivesse totalmente agasalhada e medicada parecia que o frio não ia embora, parecia que ele vinha de dentro. De algum lugar obscuro e maligno do meu ser.

- Seu pai e eu conversamos. - Seu tom de voz era calmo e cauteloso, sabia que por trás disso havia uma notícia que não iria me agradar.

- Qual o veredito? - Tento manter minha expressão neutra, por mais que esteja um pouco nervosa com a decisão dos dois.

- Não fale assim Amber, só queremos seu bem. Achamos que é bom você voltar a fazer terapia, vai ser bom para passar por esse momento. - Ela se referiu a morte de Anika, senti a tensão em suas palavras.

- Acho que vai ser bom também, a terapia me ajuda muito. - Já que não posso ir contra eles, acho melhor concordar, não estou com vontade de começar uma briga. E de todo modo a terapia me ajuda mesmo. Preciso enterrar esse meu outro eu novamente, não preciso de toda essa merda me afastando do meu objetivo, me fazendo delirar e duvidar das minhas ações.

- Que bom, querida. Vamos marcar para semana que vem. Tudo vai voltar ao normal, vai ver. - Me deu um beijo na testa e levantou-se indo em direção a porta. - Agora descanse, mais tarde trago seu almoço.

- Mãe. - Chamei, quando ela se virou.

- Sim?

- Você vai ficar?

Sorriu, respondendo em seguida - Até irmos para casa.

- Obrigada. - Sei o enorme esforço que estava fazendo em permanecer perto de meu pai. As coisas entre eles sempre terminavam em discussão, por isso se separaram, o fato dela querer ficar mais de um dia perto dele por minha causa, me fez sorrir.

***

- Eu preciso muito de um sundae de morango, meu corpo anseia por isso. - Amélia dizia enquanto abria as enormes portas de vidro da melhor sorveteria da cidade.

SEGREDOS SUBMERSOS - REVISANDOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora