Prólogo (Olhos de Vidro)

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O garoto tinha apenas 12 anos, mas pela sua altura aparentava ter 14. Seus cabelos loiros, quase brancos estavam bagunçados o deixando com um ar de moleque, seus olhos escuros cor de âmbar faziam um belo contraste com sua pele alva, era fácil notar quando o garoto estava acanhado ou com raiva, suas bochechas logo adquiriam um tom avermelhado, ele odiava isso.

- Querido precisamos lhe contar uma coisa. - Sua tia disse lhe fitando de forma firme. Seu tio estava ao seu lado também lhe olhando.

Rapidamente pensou em tudo de errado que havia feito, não se recordava de nada, então por que tinham que conversar? Sentiu medo, o pior era que não sabia do quê.

- Sabe que seus pais morreram, certo? - Iris, sua tia lhe tratava de uma forma tão maternal que ele por vezes esquecia que seus pais não eram eles.

Somente assentiu com a cabeça sem conseguir entender aonde eles queriam chegar, afinal eles já haviam falado sobre a morte dos pais. Eles morreram de uma grave doença e por sorte ele conseguiu se salvar.

- Nós mentimos. - A voz grossa de seu tio falou pela primeira vez. Sage lhe fitou de forma espantada. - Eles na verdade foram assassinados, filho.

Ele não sabia o que sentir, não estava entendo nada.

- Mas... Como assim? - Sua respiração era rápida e uma dor diferente se concentrou bem no meio de seu peito. Ele não sabia o que era aquilo, queria se livrar dessa dor, ela lhe machucava e dificultava que o ar saísse.

- Peter e eu achamos que você já tem idade suficiente para saber da verdade. Não está sendo fácil para nós lhe contar isso, mas é necessário, então peço que nos perdoe. - Iris segurou forte as pequenas mãos do sobrinho e observou a confusão dançar em seus olhos. Se ela pudesse evitar esse sofrimento o faria, mas esconder a verdade não era a melhor saída. Nunca era.

- Só me contem logo, por favor. - Sage queria mostrar para eles que não era mais uma criança e que sabia ser forte quando era preciso. E ele entendeu que agora era hora de ser forte.

- Nossa família é muito importante na Rússia. - Peter começou fitando a lareira atrás do garoto. - Todos conhecem e temem os Evigul's, para a grande parte da família isso é motivo de orgulho, mas para poucos como eu e sua tia é motivo de vergonha.

Dava para sentir o quanto Peter se sentia incomodado ao tocar no assunto, ele era incapaz de fitar o sobrinho nos olhos, o peso da vergonha tomava conta de si de tal maneira que era difícil continuar falando, sua esposa apertou seu ombro de leve e continuou por ele.

- Seus pais se orgulhavam. Amavam o que faziam e não mediam esforços para nunca parar. - Ela respirou fundo e Sage soube que agora vinha a pior parte. - Eles trabalhavam com tráfico de drogas. A melhor e mais refinada passa pelas mãos dos Evigul's, seu avô como patriarca da família é o cabeça de tudo e todos os outros membros são os tentáculos.

- Você entende o que sua tia acabou de dizer, filho? - Peter perguntou sério para Sage.

O garoto contraiu o cenho tentando digerir o que havia acabado de escutar, seus pais eram traficantes, sua família toda era.

- Eles distribuíam drogas pela cidade, é isso? - Sage estava se esforçando ao máximo para entender. Mas pelo olhar de seus tios sabia que era bem mais que isso.

- Sim filho, mas é mais do que isso. A família Evigul não é simplesmente só do tráfico, ela pertence a máfia. - Peter disse e Iris lhe fitou com censura achando que ele havia ido longe demais.

- Máfia? Isso é pior? - O garoto engoliu em seco tentando imaginar a dimensão da palavra ou o que ele significava.

- Muito, máfia nada mais é que uma organização bem fundada que trabalha com diferentes negócios. - Peter tentava explicar da forma mais simples possível. - Agora talvez seja difícil para você entender, mas quando for mais velho poderá entender o real significado do que estou lhe dizendo.

- No momento só queremos que saiba que seus pais foram assassinados por uma família rival, você estava conosco quando eles foram mortos, por isso se salvou. - Iris alisou os cabelos do menino e o abraçou forte, sentindo os magros braços dele lhe apertarem.

- Saímos da Rússia para que você não tivesse que crescer naquele mundo, mas em nenhum momento quisemos esconder seu passado de você, por isso estamos lhe contando. Quando for maior cabe a você decidir voltar a Rússia ou não.

Sage não conseguiu dizer nada, apertou-se ainda mais contra o corpo da tia e respirou fundo, ele havia tomado uma decisão, uma importante decisão:

- Para todo mundo vocês são meus pais e eu não tenho nada a ver com a Rússia ou com o que houve com meus pais e seus trabalhos sujos. - A voz do garoto saiu abafada por estar enterrada no vestido da tia, não queria eles lhe vissem chorando.

Não queria demonstrar fraqueza.

E se dependesse dele ele jamais pisaria na Rússia novamente.

SEGREDOS SUBMERSOS - REVISANDOUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum