Capítulo Bônus - Festa

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Narrado por Anika

O gosto metálico do sangue tomou conta da minha boca e meu estômago se revirou, fui ao chão tamanha foi a força imposta no soco. Tentei me por de pé, mas logo senti uma de suas mãos, cobertas por luvas, segurar com força meu cabelo e me puxar ainda mais para dentro da floresta.

— Me solta! – Gritei tentando segurar seu braço, tentando de alguma forma me soltar. Quando consegui, sai correndo sem saber para que lado seguir, só queria escapar.

O pior era saber que a saída ficava do lado contrário ao que eu estava, mas isso não me impediu de continuar, eu tinha que tentar, "existem várias saídas em uma floresta, não apenas uma" pensei sentindo o ar faltar.

Mas não corri o suficiente, pois logo meu corpo foi jogado com violência no chão e pontapés foram disferidos contra minha barriga, fazendo-me arfar.

— Pa-ra. – Tentei dizer sentindo a dor se espalhar por todo meu corpo.

Eu não entendia o motivo que lhe levava a fazer isso comigo, não entendia até que ponto chegaria e confesso, estava com medo do fim.

De repente parou com os chutes e abaixou-se perto de mim, puxou meu rosto para lhe fitar e tentei manter a visão limpa para olhar bem em seus olhos e tentar entender o que estava havendo.

— Eu juro que tentei, mas não adiantou, no fim esse era a única forma. – Seu sorriso triste me amedrontou, mas não mais que a lágrima que escorria solitária pela sua bochecha alva.

— Por quê? – Eu tinha uma leve noção de que aquelas seriam minhas últimas palavras.

Seu dedo indicador tampou minha boca e da sua saiu apenas um "shhh".

Permiti seus lábios encostarem nos meus, mesmo eu desprezando tal alto, mas no fim eu entendia. Era a forma de pedir desculpas. Mas o meu perdão já era seu há muito tempo.

Tirou um pano branco do bolso traseiro do jeans escuro e o colocou sobre meu rosto, em poucos segundos a noite foi perdendo a cor até se tornar um nada no meu campo de visão.

Eu sentia, mas ainda continuava levemente adormecida. Sentia um leve ardor tomar conta de meus braços e barriga, era um ardor que ia aumentando gradativamente até se tornar dor. Acordei em um susto e senti meu corpo preso a algo duro. Tomei ciência de tudo ao meu redor e ao olhar para baixo soltei um gemido baixo. Meu corpo estava amarrado contra uma árvore e tudo era sangue, meus braços, tronco. Havia cortes de faca e então soube que era dali que o ardor vinha.

— Que bom que acordou. – Sua voz me fez levantar a cabeça. Sua expressão não me passava nada, não conseguia identificar o que estava sentindo. Em sua mão direita segurava uma faca suja. Suja com meu sangue.

Abaixei novamente a cabeça e fiz a única coisa que não sabia fazer: orar.

Minha mãe nunca me ensinou, nunca quis aprender, na verdade nem sei se Deus existe, mas agora, sentindo a morte tão perto eu só conseguia pensar em como queria que Ele existisse. As lágrimas saíam de forma apressada por meus olhos e eu sentia a dor tomar conta de cada pedaço do meu corpo.

Minha cabeça foi levantada com certa violência por sua mão e senti os fios de cabelos sendo puxados ao extremo.

— Me perdoa. – Foi tudo que saiu de sua boca antes da lâmina da faca encostar na pele de meu pescoço e começar a afundar.

Dizem que a morte é acolhedora e maternal, ela abre os braços e te recebe como um recém-nascido, te embala, te canta canções de ninar e te coloca para dormir para sempre.

É tudo mentira.

A morte é nada mais que se perder na escuridão total.

E sem direito a sonhos.






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