Capítulo 2 | Suspeitos

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Algumas vezes fugíamos para o parque central quando tínhamos treze anos.

Era divertido. Amélia adorava comer algodão doce, comprava pelo menos três enquanto estávamos lá. E comia tudo sozinha.

Anika levava sua câmera, que tinha ganhado no Natal de 2008, e tirávamos fotos aleatórias, das flores, das pessoas, e até da Amélia comendo como se não houvesse amanhã seu algodão doce colorido.

No fim da tarde, deitávamos na grama e ficávamos tentando descobrir as formas das nuvens. Ali, no meio das duas, eu me sentia querida, sentia que estava entre irmãs. Adorava aquela sensação.

Agora, podia senti-la, digo a sensação que sentia quando ficávamos apontando para as nuvens. Sentia uma alegria e um sentimento de conforto tomarem conta do meu corpo, como se estivessem me abraçando. Sentia tão forte que era como se estivesse vivendo aquele momento novamente. Era tão bom que meus músculos faciais sorriram.

Abri os olhos e tudo foi se dissipando, sumindo como uma névoa perdendo sua força, dando lugar a um céu negro encoberto por enormes árvores. Então comecei a sentir uma dor horrível no alto da cabeça.

O mundo ao meu redor girava como em um carrossel e esqueci-me por alguns minutos aonde estava. Sentei com certa dificuldade e tudo começou a se estabilizar, parando de girar vagarosamente.

Engoli em seco lembrando.

A floresta. Anika. Ai meu Deus.

Em um sobressalto estava de pé, fazendo tudo a minha volta rodopiar novamente. Segurando a cabeça com as mãos noto algo molhado sob elas: sangue.

Fui atingida por algo, e isso me fez desmaiar, conclui encostando a um tronco de árvore para estabilizar a tontura que insistia em não passar.

O assassino ainda podia estar em qualquer lugar. Olhei de um lado para o outro sentindo o coração acelerar e a dor na cabeça começar a pulsar.

Minha única saída era voltar, mas estava tudo tão escuro e havia perdido a lanterna quando caí no chão.

- Burra! - exclamei tentando não soar tão alto. Estava machucada, tanto por dentro, como por fora e amedrontada sem saber como seguir. Sem saber o que fazer.

Se voltasse encontraria o corpo de Anika, com certeza iria querer ver seu rosto, isso significava chegar mais perto.

Dou-me conta de algo, fazendo meu sangue circular mais rápido.

E se não fosse Anika ali? Existiam tantas garotas loiras, de tênis All Star vermelho e gorro. Não precisava ser necessariamente ela, não quando eu não tinha visto seu rosto.

Endireitei meu corpo, deixando que os últimos resquícios da tonteira passassem e voltei. Era difícil saber para e por onde seguir, quando tudo que eu conseguia enxergar eram pequenos vislumbres do caminho, pois as árvores impediam que a luz da lua iluminasse mais fundo.

A dor pulsante não cessava e eu sentia o sangue escorrer pela têmpora. Se continuasse perdendo sangue assim, iria desmaiar de novo. Por isso apressei o passo.

Não demorei a acha-la. Estava do mesmo modo como há minutos atrás, ou teria sido horas? Sua cabeça pendendo em frente ao seu corpo, e ao me aproximar notei vários cortes profundos e de diversos tamanhos em seus braços e tronco, sua blusa estava totalmente retalhada e manchada de sangue.

Coloquei a mão contra a boca, tentando não vomitar. Era brutalidade demais, sadismo demais. A corda que a segurava contra o tronco da árvore dava várias voltas na altura de seu estômago, avistei os nós e eles pareciam ser bem dados. Como os nós de escoteiros, quase impossível de serem desfeitos.

SEGREDOS SUBMERSOS - REVISANDOWhere stories live. Discover now