Capítulo 10 | Assassina (Parte 1)

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Dizem que a verdade é libertadora, ela nos deixa mais leve, mais felizes. Não entendi porque não estava me sentindo assim. Pelo contrário, sentia como se um peso de duas toneladas estivesse sobre minhas costelas, era difícil respirar naquele estado.

— Minha cliente sofre de distúrbio de dupla personalidade, ela estava fora de sua sanidade normal quando os crimes ocorreram. – Essa era a minha advogada, que não era minha mãe, falando.

Estava sentada em uma cadeira de aço muito desconfortável em uma sala com uma parede com um enorme vidro que não me permitia ver do outro lado, mas sabia que existiam pessoas lá me observando, só queria saber quem eram.

A minha frente se encontrava o delegado Brown, o responsável pelo caso da Anika e agora da Amélia. Eles estavam discutindo o que devia ser feito comigo.

Eu confessei. Escrevi tudo em uma folha e assinei, acho que vou presa agora. Não importava se fosse em um hospital clínico ou em uma penitenciaria, só sei que irei presa, de um jeito ou de outro.

Respirei fundo arrancando a pele morta ao redor de minhas unhas.

— Dessa forma deve ser aplicada a Amber Lourdes Hunger a medida de segurança. – Fitei a advogada, ela falou com tanta determinação que senti esperança de que seria absolvida e poderia voltar para casa. Mas o que é medida de segurança?

— Isso precisa ser clinicamente comprovado, ela parecia bem sã ao escrever sua confissão. – A voz do delegado era forte e impunha respeito.

— O laudo já foi apresentado, o senhor bem sabe. Minha cliente não tem condições de cumprir pena, ela não tem noção nenhuma do que faz.

"Ei, estou bem aqui! Sei que sou louca, mas não precisa pegar pesado". Quase deixei a frase escapar, mas consegui me manter calada.

— Senhorita. – Ele me chamou. Despreguei os olhos da mesa lisa a minha frente e o fitei.

Ele era ruivo e tinha diversas sardas pelo rosto, até seus cílios eram ruivos. Isso me causou certo desconforto. Ruivos são estranhos, pelo menos eu acho.

— Por que matou suas amigas? – Essa era uma pergunta importante. Eu podia sentir que sim. Sua resposta era o grande X que toda equação de matemática procurava. Odeio matemática.

— Eu.... – Parei esfregando o olho direito, ele começou a arder do nada. – Não sei.

Senti ele engolir em seco e depois fitar minha advogada. Não lembrava o nome dela. Era algo com D ou seria B? Ai meu Deus, é impressão minha ou essas paredes estavam encolhendo?

Comecei a respirar mais rápido e senti a palma de minhas mãos suarem, estava tendo um ataque de pânico. Eles começaram no mesmo dia que lembrei de tudo. Comecei a lacrimejar.

— Preciso sair. – Olhei para minha advogada que logo entendeu.

— Por hoje é só delegado, tenho certeza que a medida de segurança será aplicada. – Ela disse ao levantar, apertou a mão dele e pegou meu pelo braço me guiando em direção a saída.

Meu coração estava batendo tão rápido que tive certeza que ela conseguia ouvir, precisava do meu quarto branco, da minha janela com vista para o jardim, da minha cama dura, precisava da sanidade que só existia naquele lugar onde todos têm um miolo a menos.

E eu era um deles.

***

Deitada em meu quarto particular fiquei observando as sombras que os galhos da enorme árvore ao lado de minha janela projetavam na parede branca. No começo fiquei assustada, mas depois me acostumei e até passei a gostar, era como decoração. Assustador? Talvez, mas não deixava de ser lindo, pelo menos aos meus olhos.

SEGREDOS SUBMERSOS - REVISANDOWhere stories live. Discover now