O cãozinho e a moça de cabelos vermelhos

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Quando ando pelas ruas estou quase sempre muito ocupado

comigo mesmo e quando alguém passa por mim, só dou-me conta de

que a conheço depois que ela me envia um SMS no celular dizendo;

"cuidado ao atravessar a rua, bjos saudades".

Tenho o grande mal de ser distraído, ando observando, não as

pessoas (que acho serem enjoativas de serem observadas). Observo

as árvores, as plantas que brotam nas jardineiras nos prédios de vinte

andares, as rosas exibidas nas floriculturas, esperando seus grandes

momentos de serem presenteadas a alguém que se ama.

Sou diferente das outras pessoas, isso parece ser uma característica

individual (se não fosse quase sempre estranho), mas existem pessoas

que compartilham dessa minha 'rara distração', que andam com fones

de ouvido escutando aquela música antiga do Tim Maia, e quando

passa por você, dá para escutar o balbuciar dos versos; "... Na parede do

meu quarto está o seu retrato e eu gostava tanto de você..." ou quando se está

esperando o ônibus e uma moça magrela e de cabelos vermelhos abre

uma garrafa de água mineral, toma um gole sob o sol escaldante de

um verão sem chuvas e ao lado está o cãozinho vira-lata abandonado

olhando com tristeza todos a sua volta, então, eis que Deus se mostra

através dos homens. A moça magrela de cabelos vermelhos se agacha

ao lado do cãozinho e despeja a água na mão dando de beber ao

animal, que aceita o gesto sem medo, sem recuar.

Dou um sorrisinho espontâneo e descubro a razão de estarmos

neste mundo...


Revisado em 28/03/2017

LUGAR COMUMWhere stories live. Discover now