O Bêbado

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Sobe a rua cambaleando, o peso da idade se mistura ao peso da

bebedeira, chama atenção pelas frases desconexas e sorriso banguela

na cara barbuda. Olhou para as pessoas que o observava de seus

passeios, algumas crianças de pés descalços fizeram algumas piadas e

como o velho senhor cambaleante ignorou, desistiram, e logo se

distraíram com um cachorro magro que matava a sede em uma poça

d'água criada pela chuva que caíra na madrugada.

Com olhar distraído e vago na subida do morro. O rapaz calvo o

observava atentamente do segundo andar de um prédio com cor de

amarelo-doente. A moça que trajava um vestido todo primavera e

carregava uma sombrinha cinza como o céu; andava apressada

puxando um garoto raquítico e dentuço pelo braço. O garoto tinha

cara de choro e resmungava frases inteligíveis.

Alguém conversa alto sobre a festa na casa da Joana (a qual não

tinha sido muito boa), as crianças correm de um lado para o outro

exalando a força da despreocupação infantil, um tempo que saberão

que foi bom daqui a alguns anos, quando tiverem bem mais que as

tardes de uma terça feira para dividirem as muitas responsabilidades.

O bêbado sorri para o rapaz calvo, que água com uma leiteira as

plantas improvisadas num canteiro no passeio ao lado da entrada da

sua casa. O velho parece querer também, como a mim, perguntar, por

que molhar as plantas, se havia chovido tanto? O sorriso do velho

barbudo e banguela irrompe a tarde barulhenta numa gargalhada. A

gargalhada mais sincera que escutei numa terça lânguida.

O cachorrinho levanta as orelhas e fica observando como que

querendo entender o que está a acontecer.

A velha gorducha que varre os panfletos de propaganda eleitoral

está emburrada e com o dedo em riste a tocar o bêbado, as crianças e

o cachorro. Todos vão subindo lentamente à rua, desolados e em silêncio.



 Revisado em 28/03/2017

LUGAR COMUMWhere stories live. Discover now