Depois os 30

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Resolvi escrever a segunda parte depois de ir visitar a minha mãe.

Sempre que vou à minha antiga casa, bate aquela vontade de pegar

minhas coisinhas, por debaixo do braço, tomar um taxi e voltar pra

debaixo das asas de mamãe. Quando morava com meus pais, queria

morar sozinho. Agora que moro sozinho, quero voltar pra casa dos

meus pais. Ah! Sem essa de me dizerem que após os 30, morar com

os pais é uma vergonha! A vida de morar sozinho exige organização

(coisa que não tenho), exige resistência para lidar com a solidão e o

principal; paciência para lidar com tarefas domésticas e ainda estudar

e trabalhar. Não tem dado muito certo na maioria das vezes.

Depois que fiz 30, aprendi a cozinhar alguma coisa que não fosse

somente miojo, e descobri (do modo mais difícil) que aquela linda

camisa vermelha jamais poderá ser lavada junto com roupas claras.

Depois que fiz 30, descobri que o dinheiro não dá pra fazer quase

nada (e que ir ao supermercado com a barriga vazia é um péssimo

negócio). Descobri que deixar as luzes apagadas em cômodos que nã

o uso, faz bem ao meu bolso. Após os 30, me sinto mais carente, mais

emotivo, choro às vezes, e rio de coisas que não tem muita graça para

a maioria das pessoas.

Após os 30, você não quer mais ficar de beijinho e abraço, quer

logo ir "para os finalmente". Descobre que a pessoa da sua vida mora

do outro lado do mundo, e que lidar com a ausência dela te traz

pensamentos contraditórios de amor, ciúme e muita insegurança.

Quando morava com minha mãe, ela não me deixava ter animais de

estimação, agora não tenho por não ter tempo de cuidar. Agora que

posso trazer todos os amigos para 'aquela' festa do barulho, não

tenho trazido. Que posso dormir todo dia com alguém diferente, mas

quero dormir e acordar ao lado da mesma pessoa, casar e ter dois

filhos correndo pela casa.

Depois que fiz 30, mudei de casa, e numa bela tarde de sol contei à

minha mãe (por telefone, pois tenho ainda amor à vida), que iria

fazer uma tatuagem, ela ficou muda e desligou. Ligou algum tempo

depois e disse que era para escolher entre continuar tendo uma mãe

ou a tatuagem. Escolhi continuar tendo mãe... Mas ainda penso em

fazer a tatuagem! (outra coisa mais acentuada após os 30, 'a auto

afirmação é sempre contestada').

Depois que fiz 30, não tenho mais tempo para mim, lavar, passar e

cozinhar para uma pessoa, é pior que cozinhar para um batalhão, eu

deixo coisas espalhadas e quando chego do trabalho ainda estão

espalhadas... Após os 30, meu cabelo caiu, e como se não bastasse o

pouco que me restou decidiu ficar grisalho (pressinto que também

tenho tido problemas de memória, e que já havia escrito algo similar a

essas últimas duas frases antes... Mas, que seja. Descobri que após os

30, posso me dar o direito. De 'ser' teimoso e não conferir Antes dos

30). Enfim...

Após os 30, descobri que a vida literalmente não começa aos 30 e

estarei aguardando (nem tão) pacientemente, aos 40!



Revisado em 28/03/2017

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