O Tempo

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Para minha Avó Lilia


O tempo passava, a chuva caia no terreiro, o corpo não mais como

antes. Os amores enterrados no cemitério das lembranças. O tempo

não foi a melhor das companhias. Os filhos já se foram para o ninho

sombrio da semente. Os dias parecendo iguais, nenhuma alegria, nem

sorrisos. À tarde caindo com o peso da idade, os olhos verdes

cansados. A esperança morta como as folhas caindo das árvores no

prenúncio da nova estação. O sabor da juventude amargo em velhas

fotos. O prazer de andar por entre as rosas no jardim, é aroma

esquecido, orgulho estalado.

Saudade é dor em ferida cicatrizada. Amor é palavra. Apenas.

Desfeita.

Às vezes é preciso ser mais que tempo, ser mais que esperança. As

rugas na face como folhas amassadas, como histórias rasgadas de

uma vida que pesa e que insistentemente; contra sua vontade, não

finda.

A velha apenas contempla a imensidão dos seus oitenta anos. A

desgraça da sua sobrevida. Sozinha.

Todos se foram e a aguardam.



Revisado em 28/03/2017

LUGAR COMUMWhere stories live. Discover now