O Menino Descalço

47 19 5
                                    



Estava ouvindo as histórias de Marcus. Marcus é um amigo muito especial. Difícil sabermos todas as histórias de vida de todos que nos são próximos. Não por tempo ou vergonha, mas sim por às vezes essas histórias trazerem algum tipo de trauma para quem as viveu.

Marcus me disse hoje, na hora do café, que quando criança vivia no sítio comprado com muito esforço pelo pai. Minhas orelhas ficaram eriçadas, pois geralmente Marcus não me conta muita coisa sobre sua infância. Disse-me sobre a fome que o levava a andar nas roças plantadas pelos agricultores próximos e a colher e comer milho verde cru, abobrinhas novas e o roubo de melancias. Seus olhos brilhavam pela emoção. Marcus me falou que o caminho do sítio até a cidade, local onde estudava, era de mais de 12 quilômetros, feitos á pé fizesse chuva ou sol. A parte engraçada dessa história é que Fernando, seu irmão mais velho, o qual o acompanhava para a escola, vivia o cercando nas estradas e trilhas para que matassem as aulas. Fiquei imaginando a cena: Marcus com suas canelinhas magras de chinelinho de dedo com um caderno nas mãos tentando escapar das emboscadas de Fernando. Chegar à escola sujo de poeira e ardendo pelo sol quente ou ás vezes ensopado pela chuva e cheio de barro faziam do ato de estudar uma odisseia. Marcus nunca desistiu dos estudos.

A fome, que tinha nas refeições da cantina a única salvação após horas de caminhada sem café da manha no estômago ou os tomates pedidos nas quitandas para matar a fome até chegar em casa, fizeram desse amigo a pessoa mais incrível que conheço. Hoje olho Marcus com mais admiração, estudar é a única coisa que jamais nos pode ser retirada e saber que (ele) estuda em uma das melhores Universidades Federais do País é mais que ser um vencedor. Do menino franzino que ia para a escola de chinelos e sofria Bullying dos colegas por ser da ''roça'' as múltiplas possibilidades da persistência.


LUGAR COMUMDär berättelser lever. Upptäck nu