4. ele cozinha e convence

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4. ele cozinha e convence

     Ela tinha cabelos compridos, alguns reflexos vermelhos, era alta pra uma mulher, tinha o corpo na medida certa e um par de olhos super loucos onde um era verde e o outro castanho. No início eu pensava que a cor do olho tinha mudado porque ela sentia tanta raiva ao olhar pra mim que alguma química tinha acontecido e modificado a pigmentação da sua íris.

     O humor dela tinha que ser estudado antes de eu ir falar com ela, e era capaz daquela raiva acabar mesmo modificando alguma coisa, como meu estado de vida. Mas tinha aprendido que dependendo da oportunidade as chances de eu sair com o ego machucado diminuíam e minha vida não era posta em risco.

     Precisava chegar nela quando ela não esperava, se estivesse surpresa era mais fácil de escapar dos insultos. Os nãos vinham mesmo se ela não me ofendesse, então eu cuidava pra que de algum jeito ela não se irritasse tanto a ponto de me machucar mentalmente.

     Mas, quando ela abriu a porta, e nos olhos eu consegui ver a esperança mudar para pura raiva, decidi que mesmo chegando sem que ela soubesse eu que ficava surpreso, impressionado até, com como que ela conseguia ser tão linda e tão irritada.

     Ela gritou comigo, mas eu decidi ignorar a pergunta e entrei no apartamento, fingindo que estava tudo bem, com um sorriso no rosto e as sacolas com tudo que eu ia precisar para cozinhar na mão. 

     — Eu não sabia o que que tu ia querer, então escolhi uma massa mesmo. Tu é alérgica a alguma coisa? 

     Perguntando, estava realmente curioso, e esperava que ela me respondesse, porque assim não teria problema de ela acabar sendo intoxicada por qualquer coisa que eu colocasse na comida. 

     Mas, mesmo com aquilo, Lívia não me respondeu. Estava me encarando, a mão ainda na maçaneta da porta  e agora sua boca formava um perfeito "o" e eu não consegui controlar onde que minha mente foi, pois logo imaginei aquela mesma expressão mas sem a raiva, com ela no meio das minhas pernas, com saliva pingando de seus lábios. Ela percebeu. 

     — Que merda tu tá fazendo aqui, porra? — Repetiu, empurrando a porta e fechando o apartamento completamente. Estava me arrependendo de ter me prendido em um lugar como aquele com ela naquele estado. 

     — Bem, eu vim cozinhar... — Disse, apreensivo, sorrindo de lábios fechados e tentando não mostrar o quanto eu estava agitado. 

     — Como? — Perguntou, apontando o dedo pra mim. — Como que tu conseguiu me achar? 

    Sua voz era assustadoramente calma, parecia vir de alguém que ou te beijaria ou te torturaria na primeira oportunidade que tivesse e eu estava torcendo há meses que ela quisesse fazer a primeira opção.

     — Podemos comer antes? — Perguntei, não conseguindo encarar mais os seus olhos e com medo do que ela fosse fazer quando soubesse o que eu fiz. 

     Ela tinha uma vez literalmente puxado o pé de um guri que tentou conversar com ela de um jeito mais abusado. Ele caiu e ficou com dores nas costas durante uma semana e como tinha batido a cabeça, correu para o hospital pensando que tinha um sangramento. E ela não sentiu nenhum remorso lá, no meio de várias pessoas, não sentiria de mim dentro daquele apartamento. 

    Colocando as compras em cima do balcão da pia, reparei em como tudo estava extremamente organizado e no seu lugar, de um jeito que até mesmo Zeus ficaria encantado. Ele gostava de quando a cozinha estava limpa e eu nunca tinha entendido. 

     — Não, não iremos comer. — Respondeu, me seguindo mas mantendo uma distância saudável. — Tu vai me dizer como que tu conseguiu entrar aqui e depois tu vai embora.

Boa noite, Aquiles ✓Where stories live. Discover now