17. ela vê o que não quer

1.9K 304 88
                                    


capítulo curto mas importante. amo vocês. até quarta com mais um.


17. ela vê o que não quer

Minhas mãos suavam dentro da sala de aula, e eu as limpava na minha calça jeans. Ignorar os pensamentos sobre a satisfação de ter bebido era difícil, mas eu me prendia de novo, assim como no início, em coisas que me faziam bem. 

Estudar, a noção de que eu tinha feito uma amizade, a noção de que eu achava ter alguém novo.

Cinco dias tinham se passado desde que tive a minha crise no apartamento, e as cinco noites tinham sido passadas com Aquiles na minha cama. Ele deitado comigo, fazendo carinho na lateral do meu corpo e comentando como já tinha imaginado aquilo várias vezes. Me preocupava como a conversa dele ainda estava arrastada, assuntos se repetindo com facilidade, mas eu ainda me agarrava a ideia de que ele era assim, que não ia dificultar a minha melhora.

Minha mente se confundia no que eu já tinha dito ou o que eu realmente tinha feito. Estava vivendo novamente o mesmo caso de anos atrás e que eu tanto julgava e percebia em Aquiles. 

Aquela incerteza de ações, movimentos, rotinas e falas. 

Mas eu limpei de novo o suor das minhas mãos e segui prestando atenção no que o professor falava. Do meu lado, o único amigo que tinha feito, copiava o que o professor falava e o que eu anotava de observações no meu caderno. 

Matheus tinha estranhado o modo como eu estava me portando. Em suas palavras, "até mesmo a pessoa que quase ninguém gosta precisa falar". E eu contei pra ele a minha versão resumida. 

Contei que tinha bebido e a pessoa que eu morava, e que ele tinha conhecido, estava mexendo comigo há um tempo. E eu não sabia se o que eu estava fazendo era o certo. 

O que eu não tinha dito pra ele era que os momentos que eu estava tendo com Aquiles e sua atenção inconsequente se pareciam sim muito com os momentos que eu tinha com Lucas no início do nosso relacionamento. 

Respirando fundo, notei Matheus falando comigo enquanto guardava as suas coisas na mochila. O professor terminando mais cedo a aula. 

— Tá tudo bem, mesmo? — Ele perguntou, suas sobrancelhas cerrando. — Porque, assim, eu quero te escutar. Não precisa se fechar. 

— Tá tudo ok. — Respondi, dando de ombros. — Tem umas coisas que eu até prefiro não falar. 

— Vai se tornar mais realidade, né? — Ele afirmou, como se lesse meus pensamentos. 

— Exatamente. — Concordei, abrindo um sorriso e tirando uma mecha do meu cabelo que caiu na frente do meu rosto.  — Mas assim, a gente pode conversar como que eu posso melhorar nisso de amizade. Me conta o que tu anda fazendo. 

— Guria, nem te estressa com essa coisa de melhorar. — Falou, colocando um braço por cima dos meus ombros. — Amizade não é uma receita perfeita. 

Eu sorri pra ele, o fato de ele estar com o braço apoiado em mim não incomodando. 

Tinha que aprender sim a mostrar interesse, voltar ao normal de convivência sem precisar beber toda hora para me sentir à vontade. Matheus estava me mostrando que eu não precisava disso. Era outra pessoa que, mesmo não participando da promessa, me dava forças para continuar contando os dias. 

— Tu quer ir lá em casa esse final de semana? — Perguntei enquanto íamos descendo as escadas. — Eu estava pensando em fazer uma janta. Ou, no caso, pedir pra Aquiles cozinhar pra gente e mais uns amigos dele. 

Boa noite, Aquiles ✓Where stories live. Discover now