9. ela conhece o resto do grupo

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9. ela conhece o resto do grupo

     Seria realmente impressionante se eu tivesse chegado em casa naquele sábado, depois de trabalhar em um final de semana o qual era pra ter sido minha folga, e não ficasse surpresa com algo relacionado a Aquiles... e eu não estava feliz com isso.

     O jeito que tinha começado a prestar atenção que ele estava se esforçando para que eu me alimentasse melhor, por exemplo, tinha sido fonte de surpresa durante algumas semanas seguidas. Não era o fato dele cozinhar, porque isto estava nas regras e dividir o apartamento com ele significava que muitas noites nem o via quando chegava em casa, ou se quer quando ele saía de manhã então nem via ele cozinhando. Mas eram as mensagens que eu me negava a responder, e os pequenos bilhetes que ele colocava em cada nova marmita que de repente apareciam na geladeira.

     Outra coisa era a constante lembrança dele quando, desde algumas semanas também, eu chegava em casa e de repente um novo filme esperava ser iniciado no meu tocador de DVD. O tocador era mais velho que quase tudo naquele apartamento, uma das poucas coisas que eu tinha comprado com o meu dinheiro e sem pedir permissão a Lucas quando estávamos juntos.

     Não sei o que Aquiles esperava que eu fizesse, se queria que eu assistisse e desse uma nota para os filmes e corresse atrás dele para contar. Mas eu vi aquele primeiro filme achando que era só coincidência. E então quase toda noite eu me encontrava no sofá vermelho, tremendo ao pegar o controle e apertar o play. Eu assistia, e guardava comentários dentro da minha cabeça, e esperava o próximo dia que ele fosse deixar um novo filme para eu ver.

     Me surpreendia porque não sabia direito os seus motivos. Estávamos morando juntos, e o que eu sempre queria desde o início era ter exatamente aquilo que estava acontecendo: ele fora de casa na maioria das noites, eu fora de casa antes que ele se quer pensasse em acordar. Morar, mas não conviver.

     Só que essas pequenas coisas me surpreendiam tanto quanto os poucos momentos que a gente convivia, porque nessas coisas ele se fazia presente, e continuava preenchendo meu silêncio.

     Naquele sábado, no entanto, eu não cheguei em casa e vi a televisão ligada com um filme me esperando ou um recado no balcão em um Post-It rosa com uma cantada e a descrição do que tinha para eu comer. Eu cheguei em casa, com os saltos amassando meus dedos, cansada e frustrada por não conseguir tirar o dia de folga, e fui infelizmente presenteada com a visão de Aquiles, o que era uma supresa em si.

     Ele estava em pé no meio de todo o apartamento, entre a cozinha e o sofá, e eu só conseguia revirar os meus olhos pra a sua presença, ainda ignorando os pensamentos de como o preto da calça e o claro da camiseta que ele usava combinavam, e como por ele estar usando aquilo a roupa ficava arrumada demais mesmo que fosse confortável.

     Mexendo no celular, ele demorou alguns segundos para perceber que eu tinha entrado, só levantando o rosto e balançando a cabeça para tirar o cabelo loiro dos olhos quando eu bati a porta e comecei a tirar os sapatos.

     Esperei que ele não fosse falar nada e só me acompanhasse com os olhos, do jeito que ele normalmente fazia quando finalmente nossos horários batiam. Porém, ele me seguiu com os olhos e acabou falando, a sua voz estranhamente mais grossa me surpreendeu de novo e trouxe a raiva que eu não deixava de alimentar de dentro do meu peito.

     — Boa noite, sonho. Vai demorar muito pra se arrumar? — Perguntou, guardando o celular no bolso da calça. Suas mãos se juntaram em um bater de palmas, como se eu soubesse exatamente o que estava acontecendo.

     Olhando para ele com meia sobrancelha levantada e a outra cerrada, escolhi não responder. Não queria saber o que ele estava querendo dizer com aquilo e talvez, esperava, fosse só uma pegadinha, algo que ele perguntara de propósito para me ver irritada.

Boa noite, Aquiles ✓Onde as histórias ganham vida. Descobre agora