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A ansiedade percorria as veias de Lili, o sentimento a dominava. Suas palmas suavam e ainda sim continuavam frias. Ela escutava conversas, murmúrios e sussurros, mas o principal barulho era os do sapatos emborrachados da enfermeira que a conduzia até Charles Melton.

Por certos momentos ela pensou que deveria ter escutado Cole, deveria correr e não olhar para trás. Ela estava dividida entre saber e entre ignorar. É o que dizem, a ignorância é uma dádiva. Mas não neste caso. Neste caso, a ignorância a comia viva. Ela precisava saber.

A porta se abriu, Charles estava sentado numa cadeira de metal atrás de uma mesa de metal, ele tinha algemas em seus pulsos e havia um homem que parecia com um policial ali dentro. A enfermeira fechou a porta atrás de Lili e a loira se sentou na cadeira. Tudo parecia levar minutos, cada movimento e respiração pareciam demorar. Cada segundo contava.

- Oi, Lili. É bom te ver. - Charles diz e sorri.

Pela primeira vez, Lili não se assusta. Seu sorriso não é mais demoníaco e perverso, é um sorriso sincero.

- Oi, Charles.

- Imaginei que fosse se sentir mais confortável se você visse que está segura. - ele diz sem que ela pergunte e mostra os pulsos algemados.

- Eu quero entender as coisas.

- Eu sei. Vou te explicar tudo. - ele faz uma pausa - Antes, posso falar? Depois você pode fazer perguntas.

Ela assente e espera que ele diga algo. Parece apreensivo, como se medisse suas palavras para não causar má interpretação.

- Pode falar, Charles.

- Eu tinha impulsos, Lili. Meu corpo chamava por você. Implorava por você. A doce garota loira. Eu tentei me conter, mas cedi a meus desejos. Comecei a te observar, apenas admirando. Mas começou a piorar, não conseguia me controlar, eu ouvia as conversas, eu te seguia, eu não conseguia focar em nada mais que não fosse você. Eu era obcecado por você. Passei anos pensando em cada detalhe. Mas então todos meus planos se despedaçaram. - ele faz uma pausa - Eu estava disposto a tudo por você, Lili. Tudo. Mas não era certo, de forma alguma. Quando atirei em Kj vi isso, o sangue em minhas mãos, o som do gatilho, isso me atormenta até hoje.

Ele não conseguia olhar nos olhos esverdeados a sua frente. Ela estava atenta mas também estava desconfortável, se remexendo na cadeira. Ele fitava o chão enquanto tentava expressar tudo o que precisava esclarecer a ela.

- Mas, por que?

- Não sei dizer, Lili. A verdade é que não há uma razão. Eu sou doente. - ele a olha - Mas estou me tratando. Estou melhor.

- Fico feliz por você. - ela diz de forma compreensiva.

- Kj...?

- Está bem.

- Que bom. - a expressão de Charles é de alívio.

Lili suspirou. Eles conversaram por mais alguns momentos e ela partiu. Não pretendia olhar para ele, nunca mais. Porém, se sentia livre.

𝔽𝕖𝕖𝕝𝕚𝕟𝕘𝕤🔹ʳⁱᵛᵉʳᵈᵃˡᵉ ᶜᵃˢᵗWhere stories live. Discover now