Capítulo 1 - Perdida

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Acordei com meu corpo estalando. Senti um desconforto grande na região da nuca e lombar.

ui.

Uma dor insuportável na coluna e mandíbula. Não era para menos, eu estava dormindo de bruços. Péssima posição. Meu queixo estava apoiado sobre uma superfície dura e minha mandíbula, deslocada para o lado, pedia socorro. Não lembrava de ter nada duro sobre a cama. Queria abrir meus olhos, mas meu corpo preguiçoso não me permitia. Rolei para o lado e, enquanto massageava o maxilar, reparei que ainda estava sobre algo firme, parecia o chão.

Será que eu caí da cama?

Estiquei o braço, procurando pela borda da cama, na esperança de me erguer para o colchão macio, mas toquei em algo mole e úmido.

O que é isso?

Abri os olhos, ainda sonolenta e, embora estivesse escuro, notei de imediato que não estava no meu quarto. Nem na minha casa. Olhei para minha mão, emporcalhada de barro.

Estou vestindo luvas?! Não. São mitenes.

Forcei a visão, tentando enxergar melhor no escuro. Ao meu redor, apenas árvores. Pareciam árvores mas, de algum modo, diferentes, estranhas. Acima de mim um céu sem estrelas. Corri os olhos pela paisagem, tentando compreender as imagens que eu via na escuridão.

Tentei me levantar depressa, mas tive dificuldades. Minhas pernas cambalearam e cederam. Senti meus músculos exaustos e doloridos. Uma coceira terrível na pele, rosto, cabelos. Olhei ao meu redor tentando entender o que estava acontecendo.

Onde eu estou?

A escuridão não me permitia ver o horizonte, tudo que estava ao alcance da minha vista era um chão enlameado e uma densa floresta.

Que lugar é esse...? Estou no mato?

Senti meu coração acelerar e minha respiração ficou pesada.

E agora? E agora?

A cabeça girava e meus pensamentos ficaram confusos. De repente um zunido agudo penetrou nos meus ouvidos e, em seguida, surdez temporária. Pouco a pouco minha visão ficou turva. Eu estava hiperventilando.

Vou morrer? Vou morrer. Vou morrer!

Mas, eu não quero morrer...

Recostei em um tronco e me encolhi, me abraçando com força, cravando as unhas em meus antebraços.

Ai. Senti um beliscão no pulso.

O que é isso? Ah, são as mitenes. Havia me esquecido delas.

A peça cobria o dorso das minhas mãos e as juntas dos meus dedos e subia até a metade do antebraço. Estava bem justa e torceu sobre a minha pele quando eu apertei os braços.

De onde vieram essas luvas? Onde estava meu pijama?

Comecei a tatear meu corpo. Eu não estava descalça, meus pés vestiam um par de botas estilo coturno que chegavam aos joelhos. Eu usava uma camiseta de tecido duro e calças.

Quando foi que troquei de roupa?

Eu não lembrava de ter me trocado. Minha mente demorava a compreender o que acontecia.

Será que alguém teria me vestido?

Minha respiração voltou a acelerar. O pensamento de ter sido abduzida da minha cama e raptada me apavorou por um momento. Voltei a me abraçar. Inspirei fundo e soltei o ar vagarosamente, precisava controlar essa crise de ansiedade. Mas lágrimas começaram a escorrer dos meus olhos. Eram lágrimas de pavor e elas não paravam. Meu corpo tremia descontroladamente. Estava confusa, assustada e perdida. Me senti abandonada naquele lugar estranho. Solucei por um longo tempo agarrada aos meus joelhos até não sobrar mais lágrimas. Eu teria que fazer algo, qualquer coisa para tentar sair dali. Mas precisava esperar o dia amanhecer. Ainda encolhida ao pé da árvore e completamente exausta de chorar, eu adormeci mais uma vez.

A TerceiraWhere stories live. Discover now