Capítulo 8 - Dinamite

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A trilha de terra batida era estreita e continuava infinitamente entre a penumbra das árvores, fazendo curvas e mais curvas. Andávamos em fila indiana com Hiz, Chelon e até Bramba, respeitando os limites do caminho. O arqueiro nos liderava, sempre, seguido por Chelon e eu. O bárbaro fazia questão de andar atrás de mim, tenho certeza de que ele queria garantir que eu não iria sumir com a preciosa carga de ossos. Mal aquele brutamontes sabia que a única coisa que tinha em mente era o cansaço. Meus passos ficavam mais pesados a cada hora e a pressão que o pacote fazia sobre a pele começava a incomodar. Eu sentia meus músculos fadigarem a cada passo, sentindo os pés afundarem na terra, as pernas caminhavam cada vez mais devagar e meus pulmões aspiravam o ar com mais força. Mas a pior parte era a dor no abdome, aquela dor enjoada, desconfortável, sentindo algo se retorcer dentro de mim. Tudo que eu queria era me deitar e relaxar, mas não podia, precisava continuar carregando aquele peso, ouvindo aquele elfo chato sibilando na minha orelha. Cada pico lancinante era a constante lembrança do evento na nascente.

Quanto tempo havia se passado desde nossa última parada? três horas? Será que aquela folha absorvente iria aguentar por mais tempo? Não havia relógio comigo e me guiar pela luminosidade do dia era uma armadilha. A claridade meio azulada da floresta enganava, dando a impressão de que o dia não se alterava, era sempre manhã ou meio dia.

Mantivemos a caminhada por pelo menos mais uma hora até a estrada se tornar mais ampla, permitindo que andássemos lado a lado. Havia cercas delimitando a área do caminho; mais um rastro de civilização; parecia que finalmente eu me veria livre daquela floresta. As cercas eram firmes, feitas de madeira grossa e escura.

— Vamos fazer uma pausa. — Chelon parou. Bramba e eu acompanhamos. Deixamos a carga no chão e sentamos sobre a cerca.

— Mas já? Falta pouco para a saída! — Hiz resmungou.

— Você não está carregando peso, temos que dar tempo para Bramba e Shino descansarem. Além disso, não temos pressa. — Chelon se acomodou na tora de madeira.

— Eu tenho pressa sim! Quero saber logo se esse nanico fugiu da Academia, quanto mais tempo enrolamos, mais chances ele tem de escapar! — O elfo guinchava.

— Não precisa se preocupar com isso. O Asteriano não irá a lugar nenhum. Fique tranquilo! Não tenho intenção de deixá-lo ir ... — Chelon respondeu mas isso não pareceu agradar o arqueiro. Hiz cruzou os braços meio contrariado e se apoiou na cerca.

Depois daquela acusação de Hiz nem mesmo eu sabia se era um fugitivo ou não. Esse pensamento não deixava minha mente descansar, se eu tivesse realmente reencarnado na pele de uma fugitiva, o que aconteceria comigo? Qual seria minha punição? Pena de morte? Senti as batidas ecoarem no meu peito cada vez mais fortes.

Talvez eu devesse fugir...

— Quem precisa de descanso é esse moleque. Eu poderia continuar por horas a fio. — Bramba rugiu me arrancando de meus pensamentos. Ele deu um soquinho no próprio muque.

— Você fala isso mas foi o primeiro a colocar a carga no chão! — Hiz chiou.

— Cala a boca magrelo. O Asteriano precisaria descansar de qualquer modo, olhe para ele, está até sem fôlego. — o bárbaro rosnou apontando o dedo para mim. Eu fiquei só olhando a conversa, aturando aquela dor chata que vagarosamente me trazia mal estar e fazendo cara de quem comeu e não gostou.

Hiz esperou pacientemente meia hora, tempo que eu fiz questão de contar os segundos na cabeça. A cada meio minuto de silêncio ele trocava de posição, resmungava qualquer coisa ou arranjava uma discussão idiota com Bramba. Depois disso, não parou mais de reclamar até Chelon decidir que podíamos seguir.

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