Capítulo 13 - Gosto de areia

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A estrada de tijolos parecia infinita e eu tentava encontrar o seu fim no horizonte mas a imagem ficava estranha, distorcida como se um ruído atrapalhasse a visão. Quanto mais eu forçava meus olhos, mais intenso o ruído ficava.

— Está tentando imitar um Sombra? — Hiz disse ao me ver.

— Só quero ver até onde a estrada vai.

— EU consigo ver...mas não te conto. — Suspirei, era como lidar com meu primo de onze anos.

Seguimos pelo acostamento caminhando por horas até os arbustos e a paisagem florestal ficarem para trás e darem lugar a uma planície onde visfiores dançavam sobre um gramado fresco e luminoso na borda da estrada. Seus movimentos suaves acompanhavam uma brisa aquecida.

Haveria estações sazonais por aqui? Minha mente curiosa se perguntou. Desde minha chegada o clima se manteve ameno, não passei frio ou calor.

Talvez estivéssemos na primavera... ponderei. Afinal, as visfiores pareciam felizes.

Nossa jornada se estendeu por um tempo até eu notar que o dia terminava. Os tons lilases do céu ficaram mais escuros, azulando aos poucos, conforme o final do entardecer se instalava. Os gramados coloridos e frescos há muito ficaram para trás, o ar se tornava mais cálido e eu sentia uma coceira me incomodando na garganta e nariz. A estrada continuava mas, à medida que progredíamos, os polidos tijolos deram lugar a peças surradas e que apresentavam falhas. Um buraco ali, um pedaço de tijolo quebrado aqui, outro, coberto pela sujeira no chão, se misturava à terra. O barulho dos nossos passos entregava os escassos grãos de areia que o vento tinha arrastado. Lentamente a areia avermelhada do deserto no fim do horizonte começava a manchar o caminho.

Finalmente era possível ver a paisagem do limite da estrada, infinitas dunas vermelhas fervilhando vapores, um deserto quente e tempestuoso, onde a força das correntes formavam ondas de areia que subiam até o céu. Apesar de ainda estarmos há uma distância do local, o vento tórrido que escapava do deserto nos alcançava, desidratando nossos corpos, sugando cada molécula de água em seu caminho. Os olhos lacrimejavam e a coceira na garganta já passava do suportável.

Quando dávamos nossos primeiros passos sobre a areia debaixo de um céu escuro, os últimos resquícios de calor escapavam do chão. Os pés afundavam até o tornozelo em um mar de areia morna que esfriava, correntes frias assobiavam alto, jogando uma chuva de areia em cima de nós. A paisagem era monótona, constante e, após caminharmos por meia hora, eu já não sabia dizer em que direção estávamos indo. Hiz ia na frente, andando sem hesitar e Chelon o seguia confiante. Eu havia ficado para trás, meus passos estavam pesados e pareciam afundar cada vez mais.

— Veja! — Chelon apontou para o topo de uma duna onde havia um ponto luminoso. Todos começamos a andar mais depressa agora que havia um objetivo claro. Hiz galopava como uma gazela sem afundar, Chelon caminhava logo atrás e eu continuava a perder terreno, com a areia subindo até a canela.

— Que lerdeza! — Hiz me provocou, ele já subia o aclive enquanto eu ainda estava no pé da duna. De repente, o arqueiro parou e cravou a ponta do arco no chão. Ele agachou, segurou o arco com as duas mãos e olhou para nós tentando dizer algo, mas uma nuvem de areia nos envolveu e sua imagem sumiu de vista.

Quando me dei conta, correntes de ar me empurravam em todas as direções, levantando uma cortina e areia, escurecendo tudo. Cobri olhos e narinas e comecei a subir a duna o mais depressa que pude. O grito dos ventos se tornava mais alto, mais assustador.

— Hiz! — Escutei Chelon gritar. Tentei ver onde ele estava mas não conseguia enxergar nada. A voz do Sombra era um ruído moribundo no meio da tempestade.

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