Capítulo 15 - Galhada de Sangue

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Hiz me acordou no susto. O sol daquele mundo ainda continuava escondido e uma penumbra azul escuro compunha a cor do céu da madrugada.

— Vai molenga! Levanta logo!

Meu corpo quase não tinha forças para levantar. Havia passado a noite refletindo sobre o que fazer. Não podia mais mentir, cada mentira que eu contava era uma larva me corroendo por dentro.

Comemos um desjejum singelo, apenas meio fruto e uns goles de água antes de sairmos do abrigo. O clima estava fresco, parecia que estávamos em outro lugar, no entanto, conforme as horas passavam e o dia clareava, o astro quente aquecia a areia, os grãos avermelhavam, pareciam absorver o calor e dissipar para o ambiente. Eu sentia um vapor subindo, amornando o ar que respirávamos. Era de fazer o estômago revirar.

Após algumas horas de caminhada, sentia o sangue borbulhando debaixo da pele. Não havia nada que eu pudesse usar de proteção e meus cabelos negros não ajudavam. Cada movimento era como entrar em combustão. Hiz ainda caminhava ligeiro e usava o lenço que antes estava no pescoço, como turbante. A paisagem composta de inúmeras dunas vermelhas continuava infinita e dentro de mim nascia um pequeno desespero. Seria capaz de continuar por quanto tempo?

Um vento quente arrastava a areia pelos ares fazendo pequenos redemoinhos escarlate, era um cenário tão ilusório que havia parado de caminhar sem perceber.

— Mantenha o passo Shino! — no pequeno momento que usei para registrar a cena na minha mente, Hiz e Chelon já estavam uma duna à frente de mim. Hiz não falou nada, aguardou eu alcançá-los sem resmungar. O arqueiro estava estranhamente quieto, não falava uma palavra desde que o astro quente subiu acima de nossas cabeças. Única vantagem desse lugar insuportável.

A jornada continuou, passamos horas subindo e descendo dunas, sem nada no horizonte. Meus pés suavam enfiados nos coturnos de couro. Cada passo, cada movimento, intensificava o calor que parecia impregnado em nossos corpos. Meu peso me fazia afundar na areia, dificultando a caminhada. Depois de algum tempo, notei que a imagem do horizonte começava a se distorcer.

— Ali. — Hiz apontou para um local.

Eu olhei e não vi nada. Só enxergava a paisagem semi-derretida, esfumaçando ao longe. Chelon continuou seguindo, confiante. Não sabia para onde estávamos indo e não me importava, onde quer que o necromante fosse, eu seguiria.

Meu corpo chegava ao limite e minha visão começava a ficar embaçada, eu não respirava normalmente, apenas ofegava numa tentativa fútil do meu organismo de se refrescar.

— Estamos quase lá — disse o necromante. Soltei um ahã ínfimo.

Mais dez passos. A respiração estava curta. Suor escorria pela minha testa e pingava pelo queixo. Mais cinco passos. Estávamos subindo ou descendo? Mais quatro passos. As pernas começavam a pesar. Mais três passos e eu não conseguia me lembrar o que estava fazendo ali. Mais dois passos. O suor ardia nos olhos e meu peito pesava. O que estava acontecendo? Mais um passo, minha perna se recusava a obedecer. Preciso dar mais um passo. Eu me inclinei para frente e bati com a cara nas costas de Chelon. Instintivamente me agarrei na capa dele e cai de joelhos.

— Está tudo bem? — Ele perguntou.

— É o calor. — respondi.

— Chegamos. — Hiz disse.

Enxuguei o suor do rosto e me forcei a levantar. Chelon e Hiz estavam parados em frente a uma planta esquisita. Parecia uma flor grande e no centro dela havia uma bola de vidro. Hiz puxou minha mão até a flor e, ao tocar na bola de vidro, uma redoma se materializou. Ou nós fomos transportados para dentro de uma redoma, não sei ao certo. Só sabia que agora respirava um ar fresquinho e a sensação de estar em chamas havia desaparecido.

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Aug 27, 2023 ⏰

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