Capítulo 10 - A Mansão do Senhorio

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Toquei em algo macio, era um tecido. Seria seda? Não... era mais firme. Era diferente.

— Acorda! — o guincho enjoado de Hiz me despertou. Eu dei um pulo ao notar que o tecido que eu me aconchegava confortavelmente era o robe de Chelon. Me levantei depressa, afastando em seguida.

— Sente-se melhor? — Chelon perguntou e eu só consegui olhar para ele sem palavras.

— D-desculpe. — Ajeitei o cabelo meio sem graça, sentindo ele amassado.

— Não tem problema, você parecia exausto. Espero que tenha descansado um pouco.

Eu ainda estava cansada, a tontura não tinha passado e sentia uma moleza esquisita. A carroça deu um tranco de repente e tudo balançou, Chelon quase caiu de lado, Hiz saiu segurando o arco e a bolsa e os ossos saíram do lugar. Imediatamente corri para segurá-los. Depois que organizei tudo, senti um frio na espinha. Algo me observava. Um rosnado grave. Um par de olhos alaranjados me encarava. Eu me virei devagar e percebi que a criatura havia recobrado a consciência e o pano que cobria sua face escorregou para um canto da carroça. Ele mostrava os dentes, rosnando ameaçadoramente. Eu dei um passo para trás, sentindo o terror de encarar um bicho selvagem. Ele começou a se debater, tentando se livrar das amarras que o seguravam, Hiz pegou o arco e o armou com uma flecha, apontando para o ser. Bramba, que sentava ao lado do carroceiro, imediatamente virou-se para o interior do carro e deu-lhe um murro na fuça. No momento seguinte ele caía desacordado e Chelon recolocou o pano na cabeça. Eu voltei a respirar.

O carroceiro fez um sinal para as bestas que puxavam e a velocidade do veículo diminuiu aos poucos e parou. À nossa frente, erguia-se um portão grande e maciço, feito de um material que parecia ferro, enfeitado com entalhes. Estávamos no limite de uma propriedade rodeada por um muro alto de pedras cinzentas. Ao lado da entrada principal, dois sentinelas faziam a vigia. Ambos usavam capacetes metálicos e estavam equipados com lanças, uma corneta e armadura leve.

Bramba pulou para fora e agarrou o prisioneiro, jogando-o em cima do ombro esquerdo como um saco de farinha. Com a mão direita, ele arrastou a mandíbula do fuma-fuma de dentro do carrinho e olhou para mim, soltando um riso cínico em seguida. Fiz uma careta e o ignorei. Me ocupei em retirar os dentes e os empilhar do lado de fora.

— O que faremos com ele? — Perguntei apontando para o bandido.

— Levamos para o senhorio, receberemos uma recompensa pela captura. — Chelon disse, saindo do carro e oferecendo algo para o carroceiro.

— EU o capturei! — Bramba rosnou de repente, assustando o carroceiro. Eu o olhei por um momento e continuei o que estava fazendo. Chelon não disse nada, mas eu pude jurar que escutei um suspiro vindo dele.

— É, mas nós te ajudamos. Quem eliminou três oponentes de uma vez? — Hiz, que saía da carroça, chiou.

— Três?! Com certeza não foi você sozinho! E quem foi que machucou o garotinho Asteriano? — Bramba riu olhando para mim. Eu não dei atenção, estava cansada, com dores em todos os locais possíveis e enjoada, queria economizar energia.

— Ele que se deixou atingir por bobeira! — Hiz soltou um guincho.

De repente o fato de eu ter quase morrido tentando proteger o Necromante, não significava mais nada.

— A recompensa pela cabeça dele é MINHA.

— Da próxima vez, vou ficar só olhando!! — Hiz bufou e teria saído resmungando mas parou e pareceu se dar conta de algo. Ele olhou para Chelon e para mim e abriu um sorriso malicioso.

Comecei a amarrar os dentes que compunham a carga e separei em dois pacotes. Um maior e com mais dentes, que era minha carga e outro um pouco menor, que era a carga de Bramba.

A TerceiraWhere stories live. Discover now