Capítulo 6 - Exposta

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Com o corpo submerso até a cintura dentro da piscina eu sentia o calor se esvair e o frio penetrar. Mas não podia sair, ainda não.

— Shino, saia daí.

— Não posso — falei ainda parada, sentindo meus músculos tiritando.

— Você está com frio, não está? Qual o problema? O Inimigo foi derrotado.

— Eu estou sangrando. — desviei o olhar para o lado. Encará-lo seria difícil.

— O Diamus te feriu? — ele disse e eu senti um tom diferente em sua voz.

— Não, não tenho ferimentos.

— Mas então por onde está... — Chelon ficou em silêncio.

Enquanto esperava ele processar a informação, senti minhas bochechas aquecerem e meu peito afundar. Dei um passo para trás, sem olhar para ele, e quase escorreguei e afundei na água. Era a pior situação do mundo, queria me enfiar num buraco e não sair nunca mais.

— Se eu sair da água, vou atrair mais Diamus, não vou? — Eu quebrei o silêncio com uma pergunta e voltei a encará-lo.

Chelon manteve-se quieto. Era difícil analisar o que estava pensando, não havia expressão, sobrancelhas ou boca para eu notar mudanças em sua face e prever o que se passava na cabeça dele. Mirei seus olhos.

A luz azulada que emanava deles poderia me dizer algo? Um reluzir, uma alteração, qualquer coisa.

— Vai sim. Provavelmente outros já estão a caminho— ele finalmente respondeu.

Um frio subiu pela minha coluna. Eu havia me tornado um fardo, um alvo. Eu era um sinal ambulante, chamando monstros para nos atacarem no meio da mata. Minha utilidade como carregadora de dentes não se comparava ao perigo que eu iria trazer para o grupo. Bramba e Hiz me descartariam num piscar de olhos, claramente não gostavam de mim e aquela seria a oportunidade perfeita para se verem livres do Asteriano fracote.

Mas e Chelon? Ele tem me tratado com cordialidade, me ajudou, me salvou. Ele não me deixaria, certo?

Eu queria implorar para que ele não me deixasse, mas as palavras que saíram da minha boca, foram exatamente opostas aos meus desejos.

— Vai me deixar aqui? Ainda dá tempo de fugir. Se vocês saírem agora e forem... — não consegui terminar a frase. Meus dedos estavam entrelaçados, minhas mãos trêmulas se abraçavam e eu as pressionava contra o peito. A incerteza do que estava para vir doía e afogava minha voz.

Por que eu estava falando aquilo?

— Ninguém vai ficar para trás Shino. Eu lhe prometo isso.

Eu não respondi com palavras, ainda segurava desesperadamente as mãos, lidando com meu constrangimento, tentando esconder meu medo, minha insegurança. Eu balancei a cabeça, como se dissesse "tá bom, obrigada", sentindo um nó se desfazer na minha garganta.

— Vou buscar algo que vai te ajudar. Está na bolsa de curativos, não é a melhor opção, mas deve bastar por ora. Espere um pouco.

Olhei para Chelon esperando algo, eu não sabia o quê exatamente, um aceno de confiança, uma palavra de conforto. Mas ele apenas me olhou por um instante antes de dar a volta na nascente e ir para o acampamento.

A noite silenciosa me deixava alerta e tensa. Aquela piscina natural, que ficava alguns metros acima da lagoa, rodeada de pedras e rochas brancas, poderia ser o paraíso de muitos, mas no momento estava dentro de um pesadelo. Meu coração tamborilava e eu podia sentir cada batida machucando meu peito. Uma brisa fria fez meus dentes baterem e eu senti meu corpo enfraquecer. Era difícil de acreditar que há algumas horas eu fui capaz de erguer e carregar o peso de dez toras nos ombros.

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