Capítulo 3 - O Titã Vermelho

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Soltei um suspiro desanimado. Precisava seguir uma direção, mas não sabia qual. Só sabia que tinha de encontrar água. Olhei para a espada que havia me ajudado, estava imensamente grata. Cravei-a de volta onde pertencia e, por algum motivo, me curvei diante do túmulo, fazendo uma reverência e agradecendo o empréstimo. Não soube dizer se era a situação, os jazigos ou a grama cinza, mas meu coração pesou. Era difícil descrever a sensação de tristeza que me atingiu enquanto permaneci ali, parada diante daquelas lápides.

Agucei os ouvidos, tentando captar os sons da floresta. Estava tudo muito quieto. Me lembrei das poucas vezes em que fui para o mato e nesses momentos, as áreas mais povoadas de vegetação não eram silenciosas. Os insetos faziam uma sinfonia à noite, além de escutarmos guinchos e pios de outros animais durante o dia. Mas nesse local não havia nada disso, somente o balançar das folhas. E que folhas esquisitas! Eram esverdeadas, mas o tom levemente azulado causava uma estranheza especialmente as nervuras esbranquiçadas. Porém o que destoava mesmo eram as manchas cujas cores variam de planta para planta. Manchas arredondadas, como pingos de uma tinta que caíram ali.

Não havia som de riacho ou cachoeira e por isso imaginei que não havia água por perto, pelo menos não ao alcance dos meus ouvidos. Decidi seguir na direção oposta à que os monstros fugiram. Comecei a caminhar meio incerta do que eu encontraria no caminho, estava apreensiva, o receio de encontrar outros monstros e o silêncio incômodo, não me deixavam relaxar. Na minha cabeça eu tentava me convencer que logo despertaria. No entanto, depois de sentir as dores dos ferimentos que sustentei, minha racionalidade ainda cochichava a verdade que eu me recusava a acreditar. Eu sabia que não estava no mundo na qual eu nasci e cresci, mas era absurdo demais falar em voz alta.

Andei por um longo período achando que não estava indo para lugar algum. Comecei a ficar com receio de estar caminhando em círculos. A paisagem, repleta de plantas estranhas e similares, me confundia. Todo lugar que eu olhava parecia com algum anterior que eu havia passado tempos atrás. Vira e mexe eu me deparava com árvores gigantescas e deslumbrantes, com troncos negros e rachados que pareciam esconder uma seiva verde cintilante. Mas eram igualmente similares entre si, todas com o corpo meio torcido em ziguezague. O clima não se alterava, era como se não houvesse flutuações de temperatura, não fazia frio ou calor. Sob meus pés um chão de terra marrom-escuro ressecada, pedregulhos que se esfarelavam a cada passo meu e restos de folhas retorcidas e cinzentas.

Resolvi parar para um descanso, sentando sobre uma rocha branca, lisa como mármore, ao pé de um desses gigantes. Olhei para cima, ainda estava claro mas não sabia definir se eu enxergava o céu azul, pois a floresta era densa e as copas escondiam quase tudo, eu só via os buraquinhos por onde a claridade entrava entre as folhas. A luz atravessava algumas folhas mais finas e criava um ambiente de penumbra azulado dentro da mata. Minha esperança era sair dali antes do anoitecer. Continuei refletindo sobre os perigos de adormecer ali e decidi que precisava encontrar um local para me abrigar.

Se eu pudesse ter uma visão mais ampla da floresta...

Olhei para o gigante atrás de mim. Parecia fácil de escalar.

Valeria o risco?  Ponderei.

O tronco era firme como rocha e sua cor escura conferia um aspecto de madeira carbonizada. Dentro das rachaduras eu podia ver a seiva brilhante, tinha um aroma cítrico mas optei por não tocar.

E se fosse venenoso?

A escalada pareceu fácil no começo, caminhei como em uma rampa, mas conforme eu subia, galhos e folhagens começaram a atrapalhar a passagem. Subi até um trecho onde o tronco não se retorcia mais e seguia para cima na vertical. O tronco era grosso demais para eu abraçá-lo, mas eu consegui apoios firmes entre as rachaduras da casca rugosa para continuar a subir. Dei uma espiada abaixo e meu peito palpitou. Era bem alto e mesmo assim a densa copa ainda dificultava minha visão. Mantive o foco no topo e fui escalando, sentindo o calor do sol se intensificando conforme as folhas rareavam. Feixes de luz que escapavam por entre as folhas me cobriam e aqueciam minha pele. No ponto mais alto, me empoleirei em cima de um galho firme e estiquei a cabeça por cima da copa.

A TerceiraWhere stories live. Discover now